6.7.14

A culpa

Desde que a minha filha nasceu que conheci sentimentos muito bonitos e profundos. Hoje gosto mais dela do que ontem e acredito que amanhã gostarei mais ainda. É uma descoberta constante e estou a adorar conhecê-la. Para quem nunca conviveu de perto com bebés, como eu, tudo é novidade. É mesmo o melhor do mundo. Outra emoção que senti e continuo a sentir é a CULPA. E esta culpa apresenta-se em várias frentes.

Logo para começar, a culpa de não ter leite. Bem me puseram a bebé ao peito imediatamente após ter nascido, mas nada. Insistimos com a bomba e não saía nada. Nem queria acreditar que não podia amamentar a minha princesinha. Já em casa, o leite apareceu, mas a menina não conseguia mamar e foi mesmo graças à bomba que lhe fui dando uma dose mínima de leite materno por dia. Senti-me sempre muito mal e chorei muitas vezes por não conseguir dar de mamar à minha filha. Entrei, enretanto, para um grupo de amamentação no facebook e foi aí que deixei de me sentir tão culpada. Havia por lá muitos membros que queriam ajudar, aconselhar e estimular à amamentação. Outras pessoas, porém, só criticavam e julgavam quem não amamentava. Será que esse é o único critério para se ser boa mãe? Para mim não é, de todo!

Depois, também senti culpa por me sentir cansada. E continuo a sentir. Tratar de um bebé é avassalador. Eu ficava exausta porque tratava dela de 3 em 3 horas. Dar de mamar, pôr a arrotar, mudar fralda, lidar com eventuais fugas e banhos e trocar a roupa... entretanto são horas de dar de mamar de novo. O pai ajuda, mas pouco. Fica parado, maravilhado, a olhar para a princesa e é pouco prático. As tarefas demoram-se no tempo e chega a angústia e culpa por estar exausta. Queria estar sempre feliz e disposta a cuidar da minha menina, mas isso nem sempre acontece e é necessário aceitar a ajuda que nos oferecem, por muito que nos custe.

Um dia, tinha a minha menina umas 3 semanas, fui a um jantar de aniversário e recepção de uma amiga que vive no Brasil. Paraceu-me, na altura, que podia estar uma horita longe dela. Na verdade, foi extremamente doloroso e mais demorado do que pensei. Só não abandonei o jantar mais cedo para não ser mal educada. Mas a ansiedade era tanta que eu nem conseguia prestar atenção ao que se falava. A cereja no topo do bolo foi quando chegou um casal, já o jantar tinha começado. Perguntaram-me se já deixava assim sozinha a minha filha tão pequena. Senti-me mesmo mal, uma má mãe. A culpa de a deixar com outras pessoas. Depois, virei-me contra o meu marido, que é quem me convence sempre a deixá-la com os meus sogros. Choro muitas vezes, fico ansiosa se não tenho notícias, mas cada vez menos me sinto culpada. Ela está com pessoas que a amam muito e tratam bem dela. Até pode sentir a minha falta e eu a dela, mas é por pouco tempo e penso que poderá ter vantagens a longo prazo.

Intimamente ligada à culpa de a deixar com outras pessoas está a culpa de ter voltado a trabalhar um mês e meio depois da minha filha ter nascido. Ajuda bastante trabalhar em casa ao computador e a Mia ser sossegada, mas há dias em que tenho muitas chamadas de conferência e não dá para ela estar comigo. Vai para os avós. Já tive crises de choro quando ela vai embora, quando me apercebo que ela não está comigo. É terrível! Sinto-me culpada por precisar de trabalhar e não poder estar com ela, dando-lhe toda a atenção que ela merece. Eu, que sempre fui a favor de mães trabalhadoras, tal como a minha mãe, hoje acredito que gostaria de me dedicar exclusivamente à maternidade. Sim, é surpreendente mesmo para mim. Eu gosto de ser eu a fazer tudo à minha filha, especialmente dar de comer, o banho, mesmo a fralda. Não gosto que estes procedimentos mais íntimos sejam feitos por outras pessoas. É cansativo, mas eu gosto de ser eu a cuidar da minha filha. Sempre que possível, eu acumulo 8 horas de trabalho com as necessidades um bebé de 2 meses. Ela ainda mama de 3 em 3 horas, no máximo de 4 em 4 horas durante a noite, por isso ando sempre em modo zombie.

Tenho a impressão de que este tópico não está concluído. Se, por um lado, há culpas que já foram combatidas, há novas culpas que surgem. E há pessoas que têm o dom de nos fazer sentir culpadas. Há que afastá-las.

4 comentários:

  1. Todos esses sentimentos são normais e com o tempo vais conseguir desiludi-los um pouco. Só os queremos proteger e até nos esquecemos de nós. Eu como estava muito tempo sozinha passava muito tempo com a minha filha e quando a comecei a deixar em casa dos avós também tinha essa sensação de a estar a abandonar.
    Quanto às pessoas, por vezes conseguem ser mazinhas e fazerem-nos sentir lixo. Se as poderes eliminar da tua vida parece-me o melhor.
    Vive a maternidade da forma que podes sem pensos de consciência porque a vida é mesmo assim.

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  2. Tudo o que sentes e escreves é normal, é a adaptação a uma nova realidade, uma volta de 180º na vida de qualquer mulher e casal. Os primeiros tempos são mesmo assim, uma sucessão de tarefas - alimentar, trocar fralda, deitar. É desgastante e por isso é importante que encontres tempo para ti. Não te sintas culpada de saires, ires espairecer, tomar um café, sentar-te numa esplanada. Para tratares bem da tua bébé, tu tens de estar bem. E aprende a delegar tarefas ao pai - por mais que ele demore ou não saiba, vais ver que rapidamente aprende e é muito importante que a tua bébé desenvolva com o pai o mesmo vínculo que já tem contigo. Tenta envolver mais o pai e vais ver que daí só vão sair bons resultados. Afinal são uma família de 3 :) Quanto ao amamentar, é bom mas quando a mulher não pode ou não quer, há que respeitar e não ser fundamentalista. E em relação ao trabalho, eu trabalho como freelancer e desde que ela nasceu tenho sempre trabalhado a partir de casa. Na maior parte dos dias é fácil porque a minha filhota sempre foi um bébé calmo e mesmo agora com os 2 anos entretém-se bem a brincar sozinha e eu posso despachar trabalho. Outros dias fica mais complicado e é preciso aprender a gerir isso. Conto com a ajuda dos meus pais que ficam com ela sempre que tenho reuniões e preciso de me ausentar. Não te sintas culpada se deixas a tua filha com pessoas que a adoram e a tratam bem :)

    xoxo
    cindy

    PS: desculpa o testamento

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  3. Ola, ao ler este seu post relembrei todas as culpas que senti ha tres anos quando tive o meu primeiro filho, mas a maior de todas, aquela que ainda hoje me incomoda de vez em quando, foi o tambem nao ter conseguido amamentar, tambem me puseram o meu filho a tentar mamar, mas nada, no hospital as enfermeiras fizeram de tudo para que fosse bem sucedida, enquanto umas me olhavam com compreencao outras criticavam por nao ser capaz, e aculpa crescia e crescia cada vez mais.
    Vir para casa tambem nao foi pacifico quando dizia que nao tinha leite as pessoas so diziam, tem que ter porque toda a gente tem, mas de tanto tentar um dia desisti e passei so a alimentar o meu filho com L A, as vezes pensava mas afinal para que sirvo se nao posso dar leite ao meu filho ? Com o apoio do meu marido foi ultrapassando essa culpa, hoje olho para o meu filho e vejo uma crianca feliz e saudavel e é so isso que conta. Daqui a tres meses nasce a minha filha e ja disse a mim mesma, nao vou viver de novo esta culpa, o que acontecer vou aceitar.
    Mas a verdade verdadeira é que somos maes e culpa existe sempre...

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  4. Percebo-a tao bem...apesar de dar de mamar e nao sentir essa "culpa" ja me senti tao cansada e sem energia que a "culpa" de nao dar a atençao que o Tomaz merece esteve sempre presente! e agora que ele esta com 5 meses eu vou voltar ao trabalho ja estou a sofrer por antecipaçao de nao poder ser eu a cuidar dele como ate aqui...e as saudades que sei que vou ter!!!

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