7.9.17

Quando os sonhos vão por água abaixo

Em Junho, levei a Maria Victória à sua primeira aula de ballet. Ela sempre gostou do universo das bailarinas e, assim que se proporcionou, marquei uma aula para ela experimentar. Foi até ao vestiário trocar de roupa e calçar umas sapatilhas de ballet e foi vendo as outras meninas a transformarem-se em pequenos cisnes cor-de-rosa. Foi com entusiasmo que acompanhou a professora até à sala. Logo em seguida, a professora vem cá fora e confessa-me que era muito bom sinal ela estar tão à vontade e que nem era muito comum. Pediu-me que fosse descansada, que ela ia ficar bem. Fui até ao café ao lado e, pouco tempo depois, pedem-me que regresse. A Maria Victória estava muito assustada, a chorar e a chamar por mim porque tinha ficado com medo da música. Levei-a embora e achámos qeu talvez fosse muito pequenina. Fiquei de trabalhar com ela esse medo, com a promessa de regressar em Setembro.
Ao longo destes meses, confirmei aquilo que eu já sabia: ela não tem medo da música. Passou as festas dos Santos Populares na rua, as festas de verão e nunca se deixou intimidar pela música ou pelo ruído. O que a assusta concretamente é o vazio de uma sala grande e o consequente eco que a música faz naquele espaço.
Hoje, voltámos à Escola de Bailado, tendo eu avisado por e-mail que iríamos experiementar uma aula novamente. Desta vez, já não passámos pelo vestiário. Tínhamos preparado uma roupinha para ela usar na aula, mas simplesmente mandaram-na entrar com a roupa que tinha no corpo: um vestido e umas sandálias. Não havia bailarinas, não havia ninguém a receber, não havia à-vontade. Ao aproximar-se da porta, a Maria Victória pediu que eu a acompanhasse. Disseram que não. Não podia passar além daquela porta, que ainda dava para uma ante-câmara e só deposi estava a porta da sala de ballet. Pois bem, a minha filha desunhou-se e chorou baba e ranho a pedir para eu ir com ela e nunca permitiram. Se bem me recordo, nessa porta dizia que era proibida a entrada de pessoas estranhas, com excepção de pais das crianças mais pequeninas. Viemos embora porque ela não conseguia entrar sozinha e não me deixaram entrar. Na rua, continuou o desespero. Queria voltar para dentro. Voltámos à escola e continuaram irredutíveis. Só nessa altura veio uma menina pô-la a desenhar nessa tal ante-câmara e começou a conversar com ela. Claro que aos 3 anos a minha filha não percebe porque é que a mãe não a pode acompanhar à porta. Viemos embora e hoje não foi um dia nada agradável.
Eu compreendo que haja regras e gosto muito que se cumpram para o bem de todos. No entanto, quando estamos a lidar com crianças tão pequenas, gostaria de ter visto alguma flexibilidade e tacto. Não houve nenhum! Não é assim que se acolhem novos alunos. Não são carneiros. Percebo que não queiram os pais lá dentro porque, tenho a certeza, todos gostariam de entrar e ver os seus pequeninos a dançar. E os avós também e era uma feira. Porém, apenas a minha filha estava aterrorizada com a possibilidade de entrar na sala e não vi grande esforço para reduzir isso.
Vamos dizer adeus ao ballet e ao sonho da Maria Victória dançar. E é apenas isso que me preocupa.
Na próxima semana, vai começar uma aula de Karate. A professora é prima da Maria Victória e creio que isso vai ajudar muito, porque mais facilmente se sentirá em casa. Mas, para já, sei que fazem as coisas de forma totalmente diferente. Os pais das crianças pequenas são convidados a entrar no espaço, tiram os sapatos e podem ficar sentados no chão a observar os filhos. Até ao dia em que já não estão lá a fazer nada. Só por aí, já me parece muito bem.
Só espero que o primeiro dia na escola não seja tão traumático...

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