6.7.18

Crianças com QI acima da média

Hoje conversava com uma amiga que, muito angustiada, me confessou que o filho foi diagnosticado como sendo “sobredotado”. Todos queremos tanto que os nossos filhos sejam precoces e bons no que fazem, mas este é um desafio para o qual nenhum pai ou mãe estão preparados.
O menino só foi para o Jardim de Infância com 5 anos - contava mal até 20, não sabia desenhar e conhecia meia dúzia de letras. 3 meses depois, a minha amiga é chamada à escola por suspeitas da criança ser hiperactiva. Fizeram testes neuropsicológicos e o menino tinha um QI de quase 140. A média para a idade seria de 90. 3 meses depois de entrar no Jardim de Infância, já lia sozinho, já sabia contar até 100.000 e calcular... Fez 2 anos em 3 meses!
60% destas criancas (enfants zèbre como lhes chamam no país onde vivem) acabam por nem concluir o 12.º ano. O sistema não está preparado para crianças assim. Nem os pais. Estes pais estão angustiados por não saberem como lidar com uma criança especial. Estão preocupados porque nunca se aperceberam de nada, não viram nenhum sinal de alarme, apenas viam uma criança muito agitada, como muitos são. Esperavam um diagnóstico de problemas de concentração ou de hiperactividade, mas nada disto. Foi uma surpresa total. Os pais estão inseguros porque não notaram os sinais, mas a verdade é que a maioria dos sobredotados não sabe que o é e não está diagnosticada.
O menino de 5 anos passou directamente para a primária, mas continuava a ser o menino de 5 anos, com os amiguinhos da mesma idade. Estão a avaliar se terá que passar mais outro ano à frente ou não. Nova perda de amigos. O preocupante é que apesar do menino ser intelectualmente desenvolvido, a sua parte emocional pode não acompanhar. Gerir essas frustrações é um desafio para professores e, sobretudo, para os pais.
Como é que os pais podem ajudar?
- proporcionar um ambiente com recursos que continuem a estimular a criança;
- evitar a supervalorização e as expectativas quanto ao desempenho da criança; ela mesma, em geral, já é muito exigente, e os pais devem aceitar falhas e ajudar a criança a enfrentar dificuldades de qualquer ordem;
- ajudar a criança a lidar com frustrações emocionais; apesar do sobredotado não passar por dificuldades no aspecto académico, o fracasso faz parte de outros contextos da vida, e prepará-lo para isso é favorecer seu desenvolvimento emocional saudável;
- não se esquecer de que, embora possua capacidades avançadas para sua idade o a criança sobredotada deve ser tratada de acordo com a sua faixa etária de desenvolvimento.
Tudo o que é fora do normal nos assusta. Mais ainda quando a vida nos brinda com uma situação mais ou menos rara. Esta mãe, a minha amiga, tem receio de não estar à altura, mas não tem nada que temer. Ela é uma mãe fantástica e vai saber cuidar do seu menino. Claro que não vai poder desabafar ou aconselhar-se com uma amiga ou outra mãe sobre esta ou aquela situacão porque a maioria de nós não tem de lidar com isto. Aliás, eu nunca conheci ninguém sobredotado e só ouvi falar de um aluno que frequentava uma escola onde dei aulas. Por isso, o melhor que soube dizer à minha amiga foi que ouvisse o seu menino e que ele saberia guiá-la. Não há melhor instrução e conhecimento do que o coração de uma mãe. ♥️

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