Desde que a minha filha nasceu que conheci sentimentos muito bonitos e profundos. Hoje gosto mais dela do que ontem e acredito que amanhã gostarei mais ainda. É uma descoberta constante e estou a adorar conhecê-la. Para quem nunca conviveu de perto com bebés, como eu, tudo é novidade. É mesmo o melhor do mundo. Outra emoção que senti e continuo a sentir é a CULPA. E esta culpa apresenta-se em várias frentes.
Logo para começar,
a culpa de não ter leite. Bem me puseram a bebé ao peito imediatamente após ter nascido, mas nada. Insistimos com a bomba e não saía nada. Nem queria acreditar que não podia amamentar a minha princesinha. Já em casa, o leite apareceu, mas a menina não conseguia mamar e foi mesmo graças à bomba que lhe fui dando uma dose mínima de leite materno por dia. Senti-me sempre muito mal e chorei muitas vezes por não conseguir dar de mamar à minha filha. Entrei, enretanto, para um grupo de amamentação no facebook e foi aí que deixei de me sentir tão culpada. Havia por lá muitos membros que queriam ajudar, aconselhar e estimular à amamentação. Outras pessoas, porém, só criticavam e julgavam quem não amamentava. Será que esse é o único critério para se ser boa mãe? Para mim não é, de todo!
Depois, também senti
culpa por me sentir cansada. E continuo a sentir. Tratar de um bebé é avassalador. Eu ficava exausta porque tratava dela de 3 em 3 horas. Dar de mamar, pôr a arrotar, mudar fralda, lidar com eventuais fugas e banhos e trocar a roupa... entretanto são horas de dar de mamar de novo. O pai ajuda, mas pouco. Fica parado, maravilhado, a olhar para a princesa e é pouco prático. As tarefas demoram-se no tempo e chega a angústia e culpa por estar exausta. Queria estar sempre feliz e disposta a cuidar da minha menina, mas isso nem sempre acontece e é necessário aceitar a ajuda que nos oferecem, por muito que nos custe.
Um dia, tinha a minha menina umas 3 semanas, fui a um jantar de aniversário e recepção de uma amiga que vive no Brasil. Paraceu-me, na altura, que podia estar uma horita longe dela. Na verdade, foi extremamente doloroso e mais demorado do que pensei. Só não abandonei o jantar mais cedo para não ser mal educada. Mas a ansiedade era tanta que eu nem conseguia prestar atenção ao que se falava. A cereja no topo do bolo foi quando chegou um casal, já o jantar tinha começado. Perguntaram-me se já deixava assim sozinha a minha filha tão pequena. Senti-me mesmo mal, uma má mãe.
A culpa de a deixar com outras pessoas. Depois, virei-me contra o meu marido, que é quem me convence sempre a deixá-la com os meus sogros. Choro muitas vezes, fico ansiosa se não tenho notícias, mas cada vez menos me sinto culpada. Ela está com pessoas que a amam muito e tratam bem dela. Até pode sentir a minha falta e eu a dela, mas é por pouco tempo e penso que poderá ter vantagens a longo prazo.
Intimamente ligada à culpa de a deixar com outras pessoas está
a culpa de ter voltado a trabalhar um mês e meio depois da minha filha ter nascido. Ajuda bastante trabalhar em casa ao computador e a Mia ser sossegada, mas há dias em que tenho muitas chamadas de conferência e não dá para ela estar comigo. Vai para os avós. Já tive crises de choro quando ela vai embora, quando me apercebo que ela não está comigo. É terrível! Sinto-me culpada por precisar de trabalhar e não poder estar com ela, dando-lhe toda a atenção que ela merece. Eu, que sempre fui a favor de mães trabalhadoras, tal como a minha mãe, hoje acredito que gostaria de me dedicar exclusivamente à maternidade. Sim, é surpreendente mesmo para mim. Eu gosto de ser eu a fazer tudo à minha filha, especialmente dar de comer, o banho, mesmo a fralda. Não gosto que estes procedimentos mais íntimos sejam feitos por outras pessoas. É cansativo, mas eu gosto de ser eu a cuidar da minha filha. Sempre que possível, eu acumulo 8 horas de trabalho com as necessidades um bebé de 2 meses. Ela ainda mama de 3 em 3 horas, no máximo de 4 em 4 horas durante a noite, por isso ando sempre em modo zombie.
Tenho a impressão de que este tópico não está concluído. Se, por um lado, há culpas que já foram combatidas, há novas culpas que surgem. E há pessoas que têm o dom de nos fazer sentir culpadas. Há que afastá-las.