Depois de 27 anos sem qualquer
sinal, o alarme do relógio biológico da Maria (nome fictício) soou. Conversou
com o F. e marcaram uma consulta pré-natal. Fez análises, exames, iniciou o
ácido fólico e parou de tomar a pílula. 4 meses depois, surgiu o tão esperado
teste positivo. A segunda risquinha era tão clarinha que nem parecia verdade,
mas era mesmo positivo sem margem de dúvida! Nesse mesmo dia, tal foi a
felicidade de F. que ele contou a novidade aos amigos mais próximos.
A primeira ecografia foi feita no
dia 14 de Fevereiro. Estava tudo bem! Tinha 5mm e já puderam ver os batimentos
cardíacos! Estes pais saíram do consultório envoltos em felicidade. Como é que
um ser tão pequenino podia já ser tão amado?
Na ecografia seguinte, o bebé já
teria 9 semanas, mas foi aí que o pesadelo começou. Assim que a médica começou
a fazer a ecografia, a sua cara indicava que alguma coisa não estava bem. Na
sua inocência, Maria nunca pensou que fosse o que realmente seria. Entretanto,
ela diz “Infelizmente, tem uma gravidez
não evolutiva…” Maria gelou! O bebé tinha parado de se desenvolver desde as
7 semanas, ou seja, uns dias depois da primeira ecografia. A Maria não teve
qualquer indício de que alguma coisa não estivesse bem. Até notou a barriga a
crescer… Ainda na consulta, conversaram sobre os próximos passos a dar e
optaram por esperar uns dias para ver se o corpo da mãe fazia a expulsão. Caso
isso não acontecesse, deveria ir ter com a médica ao hospital. Foi isso que
acabou por acontecer. Esse dia foi muito difícil. Maria chorou muito, mas não
acreditava que aquilo estava a acontecer. “Porquê
a mim? Porque é que aquilo tinha acontecido? Será que fiz alguma coisa de mal?
Seria eu a culpada?” Essas eram perguntas sem resposta.
Depois contar à família e amigos
o que tinha acontecido, foi como se a dor se tivesse instalado. Deu entrada no
hospital, fez a medicação para a expulsão, mas o bebé recusava-se a sair e
mantinha-se agarradinho à sua mamã. Como não havia descolamento, deram a Maria
a possibilidade de esperar até ao dia seguinte e ir tentando a medicação ou ir
ao bloco fazer a curetagem. Maria foi ao bloco. F., que até então a tinha
apoiado em todos os momentos, não a pôde acompanhar. Quando acordou, já no
recobro, Maria sentia-se vazia e com uma dor enorme na alma. O seu bebé já não
estava consigo! O que se seguiu foram muitas noites sem conseguir dormir e dias
passados a chorar. Um sofrimento indescritível.
Quando fizeram a consulta de seguimento
para ver se estava tudo bem com Maria, a médica já tinha o resultado da
autópsia ao bebé, mas não havia nada de concreto. As dúvidas continuavam. As
pessoas à sua volta diziam que mais valia assim do que nascer com problemas,
que mais valia agora do que mais tarde, que ainda era nova e que podia tentar
mais tarde. Estas palavras causaram-lhe muito sofrimento na altura, apesar de
Maria saber que o faziam apenas na tentativa de a reconfortar pela sua perda. Parecia
que ninguém entendia pelo que Maria estava a passar, evitava-se o assunto, era
como se nada se tivesse passado.
Para fazer a catarse da sua dor, Maria
optou por ler bastante sobre perda gestacional e contactou com muitas mamãs que
já tinham passado pelo mesmo. Foi muito bom saber de histórias semelhantes e conhecer
mães que conseguiram dar a volta por cima e continuar a tentar. Foi
verdadeiramente inspirador.
Maria e F. não desistiram e, 4
meses mais tarde, tiveram o seu segundo teste de gravidez positivo. Desta vez,
a felicidade foi mais contida e mantiveram a novidade escondida. Marcaram
consulta para fazer a ecografia, mas uns dias antes Maria começou a perder
sangue e foi ao hospital. A espera para ser atendida pareceu uma eternidade e,
quando chegou a hora de fazer a ecografia, o seu mundo parou outra vez. Tinha
sido um aborto espontâneo e o útero já estava limpo. Uma vez mais, não baixaram
os braços e continuaram o seu caminho. Ficaram com indicação médica para que, assim
que engravidasse novamente, fizesse medicação de prevenção com aspirina e Progeffik.
Apesar de tudo, esta história tem
um final feliz. Um ano depois do primeiro teste positivo, a felicidade volta a
repetir-se. Sempre com medo, cautela e ansiedade, Maria viveu, assim, uma
gravidez tranquila e o seu bebé nasceu às 41 semanas. Como Maria diz: “Hoje tenho um filho na Terra e dois no Céu,
e tenho a certeza de que estão sempre a olhar por nós.”
Imagem: Pais & Filhos |
Essa podia ser a minha história... Com apenas uma pequena diferença... Estou grávida de 18 semanas e com muito medo que tudo se repita... A primeira perda é terrível, mas com muita dor aceitamos que por vezes acontece na primeira gravidez... A segunda perda foi dez vezes pior, estávamos optimistas que desta estaria tudo bem, e quando o pesadelo se repetiu caí num poço sem fim... Nunca chorei tanto na minha vida... é desolador, uma dor tão solitária... Agora está tudo a correr bem , mas não passa um dia sem que eu pense, e se tudo se repete novamente?
ResponderEliminarObrigada pelo post, é importante sensibilizar a sociedade para a perda gestacional.
Ai, Carla, lamento muito. Mas parabéns por esse bebé que tem na barriga! Eu própria passei a gravidez a pensar que podia perder a minha filha a qualquer momento. Não por ter passado por essa experiência de perda gestacional, mas porque uma querida amiga do coração passou por isso duas vezes e eu testemunhei o seu sofrimento. Comecei a respirar de alívio às 20 e tal semanas, quando os bebés já são considerados viáveis. Pesquisei imenso sobre perda gestacional e descobri coisas incríveis. Nem vale a pena pensar... Depois, o bebé nasce e a preocupação mantém-se e até aumenta com outras coisas. Acho que esta ansiedade acompanha as mães para sempre. Faz parte. Se está de 18 semanas, já sente o seu bebé? Foi quando eu comecei a sentir as borboletas. Aproveite a gravidez porque vai sentir saudades. Eu, que detestei estar grávida, tenho imensas saudades. :) Tudo de bom!
ResponderEliminar