Às vezes passava-me pela cabeça que teria que retomar o blogue caso tivesse mais um teste positivo. Já não me interessava ser mãe novamente, portanto o positivo só poderia ser uma doença. Não é que pensasse muito no assunto, mas a minha mente divaga até lugares estranhos, por vezes.
Pois bem, o positivo chegou. Cancro de mama.
Em Outubro, depois de conversar com o meu médico de família sobre a minha ansiedade e como tinha que me livrar dela para sempre, ele também me pediu uma ecografia mamária.
Este ano foi muito complicado, difícil mesmo. Os dias passam a correr e o tempo não chega para tudo. Não sei exatamente quando mas, após esse início de Outubro, comecei a sentir qualquer coisa na mama direita. Não valorizei muito porque tinha a ecografia para marcar e já ia ver. No dia 27 de Novembro, já bastante ansiosa porque não me arranjaram vaga antes, faço a ecografia no Hospital da Luz.
Eu sabia que aquele nódulo que eu sentia não era normal. Eu já sabia. Mas estava à espera que o médico me tranquilizasse e dissesse que não era nada, tal como já tinha feito noutras ocasiões. Só que não disse, ficou preocupado, foi ver as últimas mamografias e ecografias de 2021 e 2023 para comparar e pediu uma biópsia - BI-RADS 4.
Eu sou uma pessoa muito ansiosa naturalmente. Nem consigo descrever como fiquei depois daquilo, tendo em conta a certeza que eu já tinha em mim.
Estado de espírito que se seguiuNão consegui voltar a trabalhar porque estava constantemente a chorar. Contactei o meu médico de família e agilizou logo uma consulta urgente no hospital. A minha cunhada também marcou de imediato a mamografia e biopsia. Para dia 12 de Dezembro. Não estava em condições de aguentar mais 2 semanas para fazer testes que me confirmariam um diagnóstico. Consigo, então, fazer a biópsia no dia 30, também no Hospital da Luz.
Eu já tinha feito uma biópsia à mama quando tinha 15 anos. Agulha filha, recolheram o material e não me recordo de ter sido traumático. Mas esta experiência foi absolutamente horrível. E sei que é só o início da aventura.
Foi uma biópsia core, com agulha grossa. Desinfetaram a região, aplicaram uma anestesia local e eis que vejo um bisturi. Fez-me dois cortes pequenos, que não senti, e depois enfiou a agulha procurando, com a ajuda do ecógrafo, a melhor forma de recolher material. Habitualmente, retiram 3 amostras, mas a mim colheram-me 5 amostras. Ainda levei mais outra anestesia, mas a partir da 3a amostra já me doía bastante. Quando me queixei da dor, a médica respondeu-me que isso não interessava agora. E, de facto, não interessava. Eu sei que ela estava super concentrada no que estava a fazer, que a localização do nódulo não ajudava à colheita do material e, provavelmente por isso, quis tirar mais amostras para garantir que eram viáveis.
Muito chorosa, venho para casa com um penso e com um saco de gelo entre a mama e o soutien e com a indicação de tomar paracetamol e continuar a fazer gelo. O pior de tudo foi a sensação de agressão e de invasão.
Nos dias que se seguiram até hoje (e já passaram uns 10 dias) a mama foi revelando um hematoma horrível, que só cresce, e que dói imenso. Não tenho conseguido sequer usar soutien, tal é o desconforto. E isto foi só um exame de diagnóstico.
O que se seguiu foi uma semana de desespero. Uma ansiedade que me fez pesquisar tudo e mais alguma coisa sobre cancro da mama. Pensei nos exames, nos tratamentos, no impacto que poderiam ter na minha vida e nas pessoas à minha volta. Fiz o filme todo. Na sua pior versão. É assim que um ansioso funciona.
Pensei sobretudo na minha filha que é tão pequenina para testemunhar algo tão violento e para ficar sem mãe. Pensei na minha mãe que já perdeu tanto e não pode perder a filha. Pensei que os últimos anos têm sido tão duros que me sinto abandonada por Deus. Não gosto de pensar no “Porquê eu?” porque eu não sou mais nem menos que qualquer outra pessoa. Estou tão cansada que sinto que não merecia ter recebido mais um desafio destes. Mas se o recebi é porque estou à altura de o enfrentar. Não há outra alternativa.
Não consigo precisar quantas vezes por dia eu ia à aplicação do Hospital da Luz ver se o resultado já tinha chegado. Era desesperante. No dia 6, a minha mãe tinha que ir ao Hospital buscar exames de rotina que ela também tinha feito e perguntou se o meu já estaria pronto. Simpaticamente, deram-lhe o envelope aberto com o resultado. Ainda estou incrédula com a falta de tato e de responsabilidade que esta pessoa teve. A minha pobre mãe teve que vir para casa sozinha com a informação de que eu tinha efetivamente um cancro da mama. Todo aquele cansaço que eu andava a sentir tinha uma razão de ser.
Como estou muito bem rodeada, graças a Deus, 1 hora e meia mais tarde, já estava sentada no gabinete da Dra. Ana Sofia Esteves, no Hospital da Trofa. A minha cunhada já tinha ido lá pessoalmente falar com ela e garantir-me a consulta. Deixei a minha mãe a recuperar da notícia que recebeu e fui acompanhada da minha amiga/anjo da guarda que coincidentemente estava de férias porque fez anos no dia anterior. A Dra. Ana Sofia explicou-me o resultado assustador da biópsia. Resumidamente, o nódulo é agressivo, de rápida multiplicação, tem 2 características preocupantes, mas é pequeno, foi detetado precocemente e não tenho histórico de cancro de mama na família. Fiquei bastante animada e percebo porque toda a gente me falava desta médica. Logo a seguir, fiz análises e uma TAC. É preciso perceber a extensão da coisa.
Já disse que sou ansiosa? Pois bem, para além disso também sou claustrofóbica. Fazer uma simples TAC não é assim tão simples para mim. Foi muito complicado, mas as técnicas foram impecáveis e explicaram-me tudo, o que me tranquilizou bastante.
Neste momento, aguardo o resultado da TAC e no dia 12 de Dezembro vou fazer a tal mamografia que tinha sido pedida com urgência. Podia ter feito no Hospital da Trofa, mas garantiram-me que o aparelho do hospital público é melhor e vale a pena a espera. Assim, também aproveito para que a minha mama se restabeleça da biópsia. Não consigo imaginar as dores que vou sentir na mamografia…
Preciso de destacar alguns aspectos muito positivos. Eu tinha feito ecografia e mamografia há 1 ano e meio e esta lesão não estava lá nessa altura. Foi a ecografia de rotina que detetou este nódulo, juntamente com o meu auto-exame mamário. Não sei qual vai ser o desfecho desta minha doença, mas a prevenção continua sempre a ser a chave para o sucesso.
Estou a escrever isto para mim e para a minha filha, que ainda não tem capacidade para compreender tudo o que eu ando a viver. Mas um dia terá e poderá ter aqui algumas respostas. Preciso deste espaço, que já ninguém visita, para ir fazendo a catarse das minhas emoções. Não gosto de me sentir vítima, mas às vezes preciso de ir abaixo para regressar com mais força. E, quando não me apetecer falar com ninguém, virei até aqui.
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