A perda de alguém que amamos é sempre tão difícil, seja humano ou não. Já perdi algumas lindas almas, mas nunca tinha tido uma criança ao meu lado a quem explicar essa perda. Parece muito assustador, mas é mais fácil do que parece. As crianças não são parvas , têm grande empatia e percebem as coisas para além do óbvio.
Há umas semanas falava com uma amiga que me contava que ainda não tinham contado à filha que a cadela de casa tinha morrido. Já passou mais de meio ano. E eu dizia-lhe que a Maria Victória estava a acompanhar todo o processo de doença da nossa gatinha e que já a começava a preparar para o inevitável.
Se, no início, quando a gatinha veio para casa após a cirurgia, a miúda ficou cheia de ciúmes pela atenção que dava à gata, logo, logo começou também a cuidá-la, acompanhava-me sempre ao veterinário e conseguia com que eu desdramatizasse toda a situação. As crianças têm aquela capacidade maravilhosa de viver o momento. Quando o momento é dramático, elas vivem-no desse modo, mas logo passa e focam-se noutra coisa.
A Maria Victória queria ir comigo quando levei a gatinha pela última vez ao veterinário. Não a levei, claro, mas ela queria ir e disse que nunca tinha visto ninguém morrer. Até conseguiu ter um momento de humor mórbido. Quando vim para casa, senti a necessidade de ficar sozinha, de chorar abertamente, sem contenções. A minha filha percebeu o meu momento e continua a perceber quando me apanha a chorar.
Com isto, quero dizer que não concordo com mentiras, acho que a verdade pode até ser adaptada à idade da criança, mas manter sempre a verdade. E custa-me quando a deixo sem resposta porque agora também faz imensas perguntas filosóficas. Quanto à nossa gatinha, continuamos a falar dela sempre que queremos e sempre que precisamos.
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