28.2.20

Os pais e a escola

No meio dos meus privilégios, que reconheço e agradeço todos os dias, penso nas mães que não têm a sorte de ter a escola ao lado de casa ou de terem horários flexíveis. Essas mães que se exercitam muito mais do que eu só para colocarem os filhos na escola, ainda levam com a culpa de terem que os despejar lá até horas tardias. É triste, é, mas é a realidade de muita gente. E era bom que nos puséssemos no lugar do outro antes de criticarmos.

Este Carnaval, no desfile das escolas, vi muitas crianças com disfarces comprados - não há mal nenhum, mas denota pouco interesse da escola. Coitados daqueles miúdos cujos pais não podem comprar disfarces. Ou pior, coitados daqueles pais que tiveram de comprar disfarces, mesmo não tenho dinheiro. A escola, que deveria promover a igualdade de oportunidades, não deveria fomentar este tipo de competição entre os miúdos. A escola, já que participa de uma actividade desta monta, deveria trabalhar nos fatos juntamente com as crianças. Vi escolas com fatos simples, mas que causaram grande impacto e ficaram lindos. E vi outras escolas em que tiveram que ser os pais a fazer os disfarces. Provavelmente, à noite, quando já estão exaustos depois de um dia de trabalho. Verdadeiramente admirável! 

Esta conversa toda para criticar um pouco as escolas que impõem aos pais que participem nas actividades escolares. E, quando não conseguem, fica a crítica e consequentemente a culpa. Os meus pais nunca participaram em nenhuma actividade escolar minha. A minha mãe não ia faltar às aulas dela para me ir ver fazer isto ou aquilo. Nunca levei “trabalhos manuais” para fazer em casa. Eu acho que nunca os pais estiveram tão ocupados como hoje em dia, nem nunca estiveram tão envolvidos na escola como hoje em dia. Sim, é bom percebermos que podemos entregar os nossos filhos a uma instituição e que eles cuidam deles lá. No final do dia, são nossos de novo. Nem quero imaginar a culpa que alguns pais carregam quando na escola os repreendem porque não foram ao desfile ou à reunião para debater a cor do cartaz da primavera. As pessoas não se conseguem multiplicar. Exige-se, hoje, que os pais estejam em todo o lado e sejam bem sucedidos em todas as frentes. Lamento informar, mas não conseguimos. E, se virem alguém assim, provavelmente está a falhar nalguma área e a disfarçar bem. Na escola há representantes de pais. Usem-nos para se fazerem representar. 

Esta elasticidade que já achamos natural nos pais, mas sobretudo nas mães, está a deixar-nos esgotadas. Eu, com todas as regalias que tenho, estou exausta. A minha filha sai às 4, mas às vezes apetecia-me que ela ficasse na escola mais tempo para eu poder trabalhar mais um pouco ou até não fazer nada. Que bem que me sabe quando ela vai brincar um bocadinho para casa dos vizinhos. E, porque valorizo esses momentos, também eles vêm para a minha casa para aliviarem um pouco os pais.

Pais, mães, professores, educadores, família e amigos, sejamos todos mais solidários e menos críticos. Ganhamos todos com isso. 


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