22.4.25

Ansiei muito chegar até aqui…


… à quimioterapia vermelha. Sobretudo porque era a mais dura, mais tóxica e mais agressiva. Mas também por ser a reta final de 5 meses de quimioterapia. É como se já se visse o fim à coisa. Ainda falta pouco mais de um mês, mas já cá estou. 
Tal como anunciado, a vermelha é lixada!
Após a primeira sessão, noto o seguinte:

-  Cansaço - estou incrivelmente mais cansada do que antes. E o cansaço tanto se manifesta de forma física, como de forma mental. Não voltei a treinar, faço pequenas caminhadas a muito custo.
- Dores de cabeça - não são fortes, mas parece que a cabeça está atrofiada, sempre com sono, visão debilitada.

- Náuseas - sempre presente um ligeiro enjoo, mas nunca senti vontade de vomitar. Parece que nunca tenho a digestão feita, sensação de azia e enfartamento. 

- Dificuldade em beber água - Enjoei a água lisa. Logo na altura em que devia beber mais água, é quando menos me apetece. Alternativamente, bebo água aromatizada ou com gás. 

- Cara esquisita - Agora, sim, não me reconheço. A pele parece que foi toda passada a lixa, a cara está muito redonda e inchada. No entanto, parece que já desinchei no corpo. Continuo a perder sobrancelhas e pestanas, apesar de ainda restarem algumas e isso altera-me completamente as feições. 

- Apetite - Diminuiu um pouquinho, mas nada de especial. Continuo a ter vontade de comer, mas tenho que comer quantidades menores.

Uma semana após a quimioterapia, todos estes efeitos secundários estão mais esbatidos e vou-me sentindo melhor.

Sexta e sábado foram muito maus. Domingo consegui ir ao almoço de Páscoa, mas não consegui chegar à sobremesa e fui descansar. 
Estes dias vou tentar fazer algum exercício físico, mas sem grandes expectativas. Fiz uma caminhada ontem e fiquei esgotada. 

Para além de tudo isto, estou a fazer as tais injeções que estimulam a medula. Não tenho dor alguma na aplicação, não parecem vidros a entrar, não tive dores nos ossos. 

Amanhã e depois, vou sair de casa. Vou tentar fazer uma maquilhagem e, quem sabe, usar uma peruca para me sentir melhor. 

18.4.25

Quimio vermelha 1/4

Comecei esta nova etapa, na terça-feira, com alguma apreensão. Toda a gente me falava como era mais dura esta fase. Efetivamente, é mais dura, mas não a sinto dolorosa. Para já, pelo menos.


Não me administraram o anti-histamínico, por isso não tive sono. Entretive-me a conversar com duas parceiras de sala. 

À minha esquerda, estava uma senhora de 70 e tal anos, e fazia a sua primeira quimio. Era a vermelha, não tinha cateter implantado e a enfermeira teve dificuldade em encontrar uma veia. O outro braço não podia ser furado porque já tinham esvaziado a axila. Esta senhora foi diagnosticada com cancro de mama no verão, fez cirurgia e só iniciou tratamentos agora, em Abril. Sinceramente, não entendo esta demora. Falou-me que não conseguiu quimio na semana anterior porque tinha os valores baixos devido a um antibiótico e, por esse motivo, tinha tomado umas injeções para a medula que lhe tinham provocado muitas dores nos ossos. 

À minha frente estava uma miúda de 45 anos. Estava toda encolhida na cadeira, muito magra e fraca. Não podia beber o iogurte frio e contou-me como não tinha forças para nada. Deu para perceber quando foi à casa de banho. Mal conseguia andar ou manter-se em pé. Depois, explicou que tinha um cancro do intestino, grau 4, inoperável. Começou a quimioterapia no Natal, não perdeu o cabelo, mas perdeu toda a energia e apetite. 

Do meu lado direito, estava um senhor, que já costumo ver por lá, e também aproveitou para reclamar do hospital de Lamego. 

Assim passámos o tempo. Fui tentando motivar a senhora do lado, já que estava no início. 

Vim para casa a fazer xixi cor de rosa/laranja. Efetivamente, aquilo tem um cheiro muito estranho, mas se bebermos muita água já não cheira. 

Nessa noite, fiquei com o jantar um pouco embrulhado. Não tive vómitos ou diarreia, só mesmo alguma dificuldade em fazer a digestão. O que me custa são os calores que vou tendo (fruto da menopausa falsa provocada pela quimioterapia) porque me acordam e depois tenho dificuldade em adormecer. 

Mantenho o cansaço e é mais intenso. Treinei nos dois dias seguintes à quimioterapia. Por outro lado, sinto que já não tenho o formigueiro nos dedos das mãos. Nos pés nunca senti. Na quarta, fiz também um direto com o PT Hugo sobre o trabalho que ele desenvolve com sobreviventes de cancro de mama. Pensei que não fosse conseguir devido à fadiga, mas correu muito bem. 

Ontem, quinta-feira foi o aniversário da minha princesa. Foi um dia desafiante. Estava exausta, havia muito barulho aqui em casa, muita gente… só aguentei mesmo por ela. Por ela, tudo. 




Hoje, sexta, foi o dia de iniciar a toma das tais injeções. Como a quimio vermelha baixa muito a nossa imunidade, é fundamental estimular a produção de glóbulos brancos rapidamente. Vou tomar uma injeção todos os dias até à próxima sessão de quimioterapia. É para aplicar na barriga e é a minha mãe que ma administra. Já foi assim quando fui operada. 


Disseram-me que a aplicação era dolorosa e que pareciam vidros a entrar. Passei o dia todo a pensar nisso e só quis tomar a injeção no final do dia, com receio da dor. Não me doeu absolutamente nada. Também pode ter sido da camadinha adiposa que tenho sobre a barriga… 

A minha vizinha de cadeirão também me disse teve fortes dores nos ossos. Para já, não sinto nada, mas pelo sim pelo não vou tomar um paracetamol. Se puder evitar dores, vou evitar. 

Para já, é isto. Estou sempre cansada, nem sequer me apetece beber água, tenho muita falta de energia e uma má disposição digestiva constante. E acho que também já estou a comer bem menos. Valha-nos isso, a ver se perco os kilos que não me pertencem. 

8.4.25

Quimio 12/12



12 semanas depois, eis-me chegada ao fim do Capítulo II. 

Perdi cabelo, mas ganhei 6 kg. Estou mais cansada, mas sinto-me mais forte.

Não cheguei aqui sozinha. Obrigada à minha mommy querida @juliadalilamoura que nunca me abandona e que não merecia mais este desafio da vida.

Obrigada a todos os que se fazem presentes e que não se intimidaram com este diagnóstico. Obrigada por continuarem a ligar, mandar mensagens e a convidar para jantar, mesmo que nem sempre atenda, que não responda rapidamente ou não me apeteça sair para jantar. Sem pressão, voltam a repetir os convites até que me apeteça. Os meus não foram embora.

E obrigada àqueles que se ausentaram. Foram poucos, mas aconteceu. Chemo ghosting é uma realidade, people. A desculpa comum é que estão a dar espaço para a pessoa se tratar ou que não saberiam o que dizer. É só ridículo e triste, mas aceito a sua decisão. 

O meu núcleo está forte e estável. Só penso em quem não tem esse suporte e que necessariamente se vai abaixo porque se sente duplamente abandonado.

Por esse motivo, sou tão grata por quem tenho. Por ter quem tenho é que me permito ter uma boa auto-estima, esperança e ânimo numa recuperação total. Não é leveza. É saber que sou forte porque os tenho e que também quero continuar cá por eles. 

Leio todas as mensagens que recebo. Reparo que todos os dias novas pessoas chegam ao meu Instagram. A maioria são mulheres que passaram ou estão a passar por este processo. Mas também há pessoas que não me seguem e dão-se ao trabalho de todos os dias irem visitar a minha página. Sim, eu consigo ver isso. Não sei se é curiosidade mórbida, se é cusquice ou simplesmente se é para ver se já morri. Ainda estou aqui. 

Agradeço toda a força que recebi de amigos próximos e distantes. A dos próximos eu já antecipava. Agradeço que não me liguem só para saber como estou, mas também para me contarem da sua vida. Normalidade. A força dos amigos distantes, aqueles com quem já não falava há 20 anos ou mais, emocionou-me muito. Aquelas pessoas que, não conseguindo articular palavras, me deixam só um ❤️. Mil vezes isto do que um longo texto sem sentimento do chatGPT. 

Ontem, fui ao portão de casa receber uma encomenda da MRW. O senhor ficou impressionado por me ver sem cabelo. Entrega-me a caixa e pergunto-lhe se precisa de alguma coisa da minha parte. E diz-me que só precisava que eu fosse feliz e tivesse saúde. Já viram a sorte que tenho? Obviamente que lhe desejo o mesmo. 

Estou mesmo feliz porque cheguei até aqui. É motivo para celebrar porque consegui não falhar nenhum tratamento. Foram 12 semanas seguidas, com uma cirurgia e anestesia geral logo após o 1.º tratamento. Agradeço ao meu corpo que aguentou tanta toxicidade.

Não dou nada como garantido, mas faço a minha parte. Faço treino de força 2 ou mais vezes por semana, alimento-me bem, nunca perdi o apetite, tomo vitamina D e Omega 3 e sou selectiva com o que a minha mente consome. Isto aplica-se a pessoas, redes sociais (deixei de seguir uma série de páginas), livros, séries e filmes e música. Permito-me chorar de vez em quando porque tem mesmo de ser, como é o caso agora. E depois, foco-me em coisas positivas. Não que o que escreva não seja positivo. É positivo porque sinto que também tenho a responsabilidade de criar conteúdo que seja útil e motive outras pessoas. E aqui eu sou completamente honesta. Só falo do que acontece e não faço parecer fácil. O positivismo pode ser muito tóxico também.

Também estou feliz porque na próxima semana vou começar o Capítulo III desta aventura. Depois da cirurgia da mama, do tratamento de quimio branca, segue-se agora a quimio vermelha. Vai ser ainda mais desafiante porque traz mais toxicidade ao corpo, provoca anemia, mais problemas gástricos, problemas de pele, enjoos… o que for. Pode provocar tudo isso ou não. Estou entusiasmada porque me aproximo do fim disto tudo. Inicio o tratamento na próxima terça e depois, permitindo as análises ao sangue, repito o tratamento a cada 2 semanas, 4 vezes. 

Espero manter o ânimo e a força, apesar de todo o cansaço já instalado. Obrigada a todos pela ajuda. 

4.4.25

As cores da quimioterapia.


Estas cores não são sinal de saúde, mas sim da agressão que o tratamento causa na minha pele. Há quem sinta efeitos muito piores. Não me posso queixar, até porque não tenho outro sintoma que não seja este rubor. 


Hoje estou sem um pingo de energia. E porquê? Porque ontem exagerei. 


Na terça fiz tratamento. No dia seguinte, tendo dormido apenas 4 horas, resolvi fazer uma caminhada de manhã. Antes do almoço ainda treinei. Depois, resolvi descansar um pouco. Mas há pessoas à minha volta que, vendo-me com bom ar, acham que ainda posso aguentar mais um pouco e insistiram que fosse buscar a miúda ao colégio e às compras. Entretanto, já era quase hora de jantar e trouxemos Mac. E depois era hora da miúda ir para a cama, banho, roupas para o dia seguinte, etc.. Só consegui adormecer depois da meia noite. Às 7:30 já tive que acordar para auxiliar a minha filha antes dela ir para o colégio. Depois disso, ainda dormi mais umas 2 horas. 


O meu sono agora não é seguido. Estou sempre a acordar, com calor ou com frio, sempre com algum desconforto que me impede de ter um sono reparador. 

Então, porque eu não soube dizer que não, sinto-me exausta, com algumas tonturas. Queria treinar e não vou conseguir. Nem sequer me apetecer beber água.


Lição: Só nós conhecemos os nossos limites. Na vida, mas sobretudo num processo de tratamento, é muito importante respeitar-nos e sabermos até onde podemos ir.

3.4.25

Quimio 11/12


Aquilo que mais retenho deste dia de tratamento foi a dificuldade em arranjar alguma coisa para vestir. Estou a ter problemas em aceitar o aumento de peso e adaptá-lo à roupa que habitualmente uso. 

Mas comecemos pelo dia anterior, o das análises. Porque não há tratamento sem análises. Nesse dia, vesti umas calças de ganga e t-shirt, mas as t-shirts não dão jeito para o dia da quimio devido à localização do cateter na zona da clavícula. Enfim… lá consegui encontrar uma t-shirt mais decotada e uma saia que não me fica muito mal. 

As análises continuam ok. Estou super feliz por ainda não ter sido impedida de fazer tratamento. Na consulta de enfermagem, tudo ok e ligeiro aumento de peso. Mesmo com atenção ao que como e atividade física, a cortisona ganha sempre…

Efeitos adversos: insónia, fadiga, neuropatia, falta de memória, aumento de peso. 

Saí da consulta de enfermagem e fui tratar do Atestado Multiusos. Está entregue nas finanças, mas hei-de falar em breve sobre isso.

No dia do tratamento, fui tranquila, como sempre. Levo sempre uma mochila com uma manta e comida. Desta vez, não comi nada. Tinha tomado café antes de sair de casa e fui bebendo água. Eu faço sempre jejum intermitente, mas nos dias de tratamento não fazia. Passei a fazer também. 

A minha consulta com a oncologista foi durante o tratamento, na sala, ao lado de outras pessoas. Não gosto nada disso. Primeiro, porque há mais pessoas na sala e pessoas mesmo ao meu lado também a fazer tratamento. Por acaso, nunca tenho nada de especial ou muito privado a dizer sobre os meus efeitos secundários, mas podia perfeitamente ter e não seria aquele o lugar para os partilhar. Depois, estou sempre muito sonolenta devido à medicação. Ou seja, esqueço-me de metade das coisas que tenho para discutir com a minha médica. Enfim… já tenho o plano do novo tratamento e vou iniciá-lo já no dia 15 de Abril. 

Vim para casa, almocei e de tarde dei uma caminhada. Tudo tranquilo, sempre bem disposta e animada. 

Rumo à última sessão!!! 

 


29.3.25

Quimio 10/12

Esta semana quase me esquecia de registar mais esta pequena etapa. E tudo porque me senti super bem no pós-quimio, apesar de não estar assim tão bem antes. Mas vamos por partes.

Na segunda-feira, como habitual, fui fazer as análises ao hospital de dia. 

Não tinha vontade de acordar porque tinha dormido muito pouco. E já há vários dias que dormia pouco. Nos dias em que estou mais down gosto de me arranjar mais, para contrariar a disposição. Ajuda-me bastante. 

As senhoras do balcão já me conhecem. Já são 10 semanas a ir lá 2 vezes por semana e desta vez uma delas conversou mais comigo a propósito do meu nome. Que gostava muito de Mara e que se tivesse tido uma filha ter-se-ia chamado Mara. Achei graça e partilhei que uma vez quando fui fazer as análises ao -1 fui recebida por duas meninas: uma Mara e outra Cristiana, que são só os meus dois nomes. Há coincidências engraçadas. 

Desta vez, fui atendida por outra pessoa. Nunca tinha visto aquele homem a fazer colheitas, mas mal me dirigiu a palavra. Há pessoas muito simpáticas e outras, assim, autómatos, que fazem o serviço sem olhar para nós. É uma pena! Porque muitos doentes fazem estes procedimentos com muita angústia e ajudaria muito sermos bem acolhidos. Felizmente, isto não me afeta minimamente. 

Segui para a consulta de enfermagem. Tensão ok, peso igual, temperatura ok.

Efeitos adversos: insónia, fadiga, neuropatia. 

Na terça-feira, segui para a 10a quimio. Estava muito cansada e começar logo às 9:30 também não ajuda nada. Prefiro quando é à tarde. Continuo com insónias e continuo a não tomar nada. Preciso resolver isto porque o cansaço está a ser muito intenso. Não me apetece sair da cama, apesar do entusiasmo de ir fazer mais um tratamento. Ser a 10a sessão deu-me uma força enorme. 

Hoje também tive consulta de nutrição. Análises ótimas, o peso mantém-se e, pelo menos, não aumentou. Não podemos fazer nada quando a isso agora, até porque o próximo tratamento vai ser bem duro. 

Voltei para o cadeirão 7 e em 3 horas tinha o assunto resolvido.

Há uma coisa que preciso de falar na próxima semana com os enfermeiros. A agulha que me põem no CTI (o cateter que tenho implantado) tem gerado dúvida. Pelos vistos, o meu cateter está muito profundo e o ideal é usarem a agulha maior. No entanto, ma maior parte das vezes, usam a mais pequena e tem resultado muito bem. Se a agulha for demasiado pequena, a medicação pode não chegar ao CTI e derramar. Só que quando usam a agulha maior dói-me bastante e não é só durante a quimio. Tive dor no local a semana toda. 

Esta semana andei muito bem. Tenho a certeza que foi influência do bom tempo. Treinei 3 vezes e fiz caminhadas todos os dias. Cansei-me, descansei sempre que precisei e, por esse motivo, não senti tanto a fadiga. 

Em breve, falarei sobre o Atestado Multiusos e sobre suplementação.