29.1.25

O dia seguinte



Apesar de cansada, ontem custou-me a adormecer. 
Hoje acordei bem, sem dores na zona do cateter, e até tinha energia na minha cabeça, mas o corpo não respondeu. Fiquei na cama até às 11:30.
Sinto-me como se estivesse de ressaca. Tenho alguma intolerância ao ruído, não me apetece estar com pessoas, uma ligeira náusea. Nada de especial na verdade, mas tira-me a energia. O mais notável hoje é mesmo a face ruborizada. Estou coradinha como se tivesse andado a beber uns copos e sinto mesmo calor na cara. O apetite continua em alta, tenho sempre imensa fome. Não sei onde é que isto vai parar.
Fiz a 2.ª sessão de quimio, mas ainda não tenho o mínimo sinal de queda de cabelo. Estou atenta para ver quando lhe dou aquela carecada que toda a gente espera.

28.1.25

Quimio 2/12

Hoje foi a 2.ª sessão de quimio, mas antes ainda tive uma consulta de Nutrição, com o Dr. Edgar.

Em resumo, pediu-me que tomasse Omega 3 (um bom, tipo o Solgar) e para já não vamos fazer mais nada. As análises estão boas, não apresento grande sintomatologia, por isso vamos manter tudo simples. Para os picos de fome, sugeriu que comesse frutos secos e ovos cozidos, que promovem a saciedade. O Dr. Edgar é especialista em Oncologia e Fitoterapia e volta a avaliar-me em 3 semanas para adaptarmos o plano. E vai ser necessário adaptar o plano aos desafios que se irão apresentando.

Depois, fui ao Hospital de Dia e conversei com outra Médica Oncologista, que não era a Dra. Marta nem a Dra. Cláudia. Mostrei-lhe o cateter porque me incomodava bastante, mas tranquilizou-me e disse que estava tudo bem. Os valores das análises estavam bons e, por isso, ia fazer o tratamento.

Hoje, fiquei instalada na sala das camas. Tinha um quarto só para mim e a minha mãe pôde ficar mesmo ao meu lado. 


Instalei-me confortavelmente e deram-me uns 5 comprimidos. Felizmente, eram todos pequeninos. Não suporto comprimidos e cápsulas. E depois, prepararam o cateter. 

Doeu um bocado, admito. Tenho toda aquela área ainda dorida, ainda com pontos internos e externos e dói só ao tocar. Como sempre, faço uma reação aos adesivos e a zona fica um pouco avermelhada. Teve que me espetar 2 vezes porque a primeira não ficou bem implantada e resolveu usar uma agulha um pouco maior. Doeu, sim, mas aguenta-se muito bem.


Entretanto, depois de feitas as ligações, é tudo muito mais simples e prático do que andar com o cateter periférico no braço.

Durante a quimio comi um pão com manteiga que levei de casa, um pão com queijo, sopa e maçã cozinha que me deram no hospital. Haja apetite!

Um dos medicamentos que me dão provoca sono. Dormi como uma anjinha e rapidamente a sessão de quimio terminou. E tenho sempre imensa vontade de fazer xixi devido à quantidade imensa de soros que me administram. Aliás, foi a vontade de ir à casa de banho que me fez levantar daquela cama. Por mim, teria ficado ali o dia todo.

Hoje também tive que fazer ECG e Ecocardiograma, por isso tive que me manter pelo hospital. Temos que monitorizar o coração para ver se aguenta toda a toxidade. Estava tudo ok, aparentemente.

Vim para casa e dormi e comi. Sinto-me mesmo sonolenta e como se estivesse de ressaca depois de uma noite longa. Acho estranho já sentir isso hoje, imediatamente após a quimio, mas ok. Vamos estando atentos aos sintomas. Mantenho a fome e isso começa a preocupar-me. Não queria engordar… preocupa-me mais isso do que o cabelo. That’s a fact. Vou ter que me moderar. 

That’s all, folks!



25.1.25

Cronologia de um Cancro da Mama

4 de Outubro de 2024 - O médico de família pede-me uma ecografia mamária

(Algures entre estas datas, começo a sentir o nódulo na mama)

26 de Novembro de 2024 - Ecografia no Hospital da Luz (diagnóstico BI-RADS 4 e consequente pedido de biópsia)

27 de Novembro de 2024 - Falo com o médico de família para agendar a biópsia urgente no hospital público de Vila Real. Há outros pedidos internos para apressar o exame, que fica marcado para dia 12 de Dezembro. 

29 de Novembro de 2024 - Biópsia no Hospital da Luz

5 de Dezembro de 2024

- Resultado da biópsia: carcinoma invasor de grau 3

- Consulta com a Dra. Ana Sofia Esteves no Hospital da Trofa 

- Análises ao sangue. Aparentemente tudo bem.

- TAC toraco-abdomino-pélvica. Lesão identificada e aparentemente isolada. Restantes órgãos ok.

12 de Dezembro de 2024:

- Se fosse seguir o plano do sistema nacional de saúde, só neste dia faria a biópsia e ainda teria que esperar pelo resultado. Resolvemos fazer estes exames de qualquer forma (com excepção da biópsia) porque darão mais clareza sobre a lesão e porque os aparelhos são melhores que os dos hospitais privados locais.  

- Mamografia no Hospital de Vila Real 

- Ecografia no Hospital de Vila Real 

19 de Dezembro de 2024:

- Linfocintigrafia em Braga

- Cirurgia no Hospital da Trofa de Vila Real

20 de Dezembro de 2024 - Regresso a casa

23 de Dezembro de 2024 - Remoção do dreno

30 de Dezembro de 2024:

- Drenagem com agulha

- Remoção dos pontos 

2 de Janeiro de 2025:

- Consulta de oncologia com a Dra. Marta no H. da Trofa

- Consulta de cirurgia com a Dra. Ana Sofia - nova drenagem 

6 de Janeiro de 2025:

- Consulta de cirurgia com o Dr. Nuno no Hospital de Vila Real

18 de Janeiro de 2025:

- Consulta de oncologia com a Dra. Daniela no H. Vila Real

21 de Janeiro de 2025:

- Quimio 1/12

23 de Janeiro de 2025:

Colocação do cateter no Hospital da Trofa 



24.1.25

Colocação do cateter central

Ontem, fui colocar o cateter ao Hospital da Trofa. 

O cateter vai facilitar a quimioterapia. Em vez de picar constantemente o mesmo braço (até porque não poderei picar o braço direito) e irritar as veias devido à toxicidade dos medicamentos, passa-se a usar este portal. Como está localizado numa veia onde o volume é o fluxo de sangue são muito grandes, isso vai facilitar também a diluição dos medicamentos.

O dispositivo o fica debaixo da pele e isso vai evitar infeções. 

Entrei às 2:30, fiz o check-in e o pagamento e instalei-me no quarto. Vesti aquela bata sexy, mediram-me a tensão e fizeram-me análises. Tudo ok para a cirurgia.


Esperei imenso tempo até entrar no bloco. Como já estava com soro há umas horas, ainda tive que ir fazer um xixizinho antes da cirurgia. O pessoal do recobro era super simpático e fui-me entretendo a ouvir as conversas. Ao meu lado, acordavam um senhor que perguntava se já tinha sido operado e que não se lembrava de nada. Foi uma risada. 

Depois, apareceu o Dra. Ana Sofia que me disse que as análises estavam ótimas e que estava tudo pronto para começar. Voltou a ver a minha mamoca e via-se que estava super orgulhosa do trabalho que fez. Está mesmo impecável! 

De seguida, veio o giraço do Dr. Miguel e ficou impressionado como eu estava muito mais calma do que na cirurgia anterior. Tenho andado mesmo mais tranquila. Explicou que ia ser anestesia geral. Fiquei surpreendida porque habitualmente (pelo menos no público) fazem com anestesia local, mas de facto é preferível estar a dormir e não ter memórias traumáticas destes eventos. Continuo a achar que a pior coisa que me aconteceu até agora em todo este processo foi mesmo a biópsia. E é uma coisa que muitas mulheres fazem, que é feito com anestesia local e foi super violento. 

Aguardo mais um pouco e vou para o bloco operatório. Reparei que seria já perto das 6 da tarde. A equipa de enfermagem prepara-me e recebo o oxigénio que me deixa tonta antes de adormecer. 

Acordei muito bem. Estas drogas que nos põem a dormir também nos põem a acordar muito bem. Fiquei mais um pouco no recobro e depois vim para o quarto. Tomei um chá e bolachas, mas ainda comia mais. Estava cheia de fome porque já não comia há quase 24 horas. A minha mãezinha esteve este tempo todo à minha espera… super ansiosa.

Entretanto, fui fazer um raio-x só para confirmar que tinha o dispositivo implantado no sítio certo e tive alta. Vim para casa com o penso e é para trocar daqui a 3 dias. O cateter já poderá ser usado na próxima sessão de quimioterapia, poupando-me assim o braço. Estou a tomar paracetamol para as dores e antibiótico durante uma semana. 

Experiência top. Não me arrependo nada de ter feito aqui a cirurgia. Só a simpatia e a atenção que recebemos vale todo o dinheiro que se possa gastar. 

Cheguei a casa por volta das 9.




21.1.25

Quimio 1/12



Foi hoje o primeiro dia de quimio. 

Não estava particularmente ansiosa. Pelo menos, não era aquela ansiedade má que sinto quando vou fazer alguma coisa que me intimida. Era uma ansiedade de querer fazer, de entusiasmo e de borboletas no estômago. 

Não dormi nada. Às 3 ainda estava acordada e às 4:30 o Filipe estava cheio de febre e pediu-me uma toalha fria molhada. Fiquei acordada até às 6. Às 7:30 o despertador toca para preparar a MV para o colégio. Dormi a partir das 8:30, mas o Filipe acorda-me novamente às 9. Às 10 saio da cama para tomar banho e me preparar para o dia. Tomo pequeno-almoço, o que habitualmente não faço. A minha mãe preparou-me torradas e ovos mexidos, abacate e beterraba. Já não consegui comer o mamão. Antes de sair, preparei o pequeno-almoço ao Filipe para ele tomar um Brufen. Entretanto, a D. São também chegava a casa e já o orientava. 

A minha mãe quis acompanhar-me para perceber como tudo acontece, mas sinceramente não é necessário que volte a fazê-lo. Não há espaço para se sentarem e, na verdade, não estão lá a fazer nada. 

Comecei por me apresentar na recepção 15 minutos antes das 12. e aguardei que me chamassem. 5 minutos depois estava a entrar para a sala onde administram os tratamentos. É uma sala comprida e há cadeirões reclináveis dispostos ao longo das paredes. Tem grandes janelas que dão para o exterior e a luz ilumina a sala toda. Hoje estava nublado, portanto os níveis de luz eram baixos. Nessas cadeiras, umas 8 pessoas recebiam tratamento. Eram maioritariamente idosos. Os enfermeiros têm a sua estação de trabalho ao centro e encaminharam-me para uma dessas cadeiras. 

A Sandrinha chega para me ir vir e emociona-se. E eu também por vê-la assim. Os enfermeiros aproximam-se para me colocarem o cateter periférico e aí a Sandra já não aguentou e foi embora.

Colocaram-me o cateter no braço e é desconfortável, como sempre. Felizmente, vou colocar o cateter central já na quinta-feira, no Hospital da Trofa. Não consegui arranjar uma posição cómoda para o braço durante todo o tratamentos.

Não sei o que me aplicaram, mas descobri mais tarde que ainda não era o tratamento. Entretanto, fui a outra sala, sempre com aquilo que mais parece um bengaleiro com rodas, falar com uma enfermeira que me fez algumas recomendações. Focou-se nos cuidados com a alimentação, que se assemelham àqueles que as grávidas têm, cuidados com a pele e a higiene oral. Também trouxe de lá um saquinho com algumas amostras que posso usar durante os tratamentos.

De volta à sala de tratamento. No caminho, passei por outra sala que tinha outras pessoas a receber tratamento mas em camas.

Entretanto, recebi mais um remédio que provoca sonolência. É um medicamento para prevenir um efeito secundário qualquer. Já não me recordo. A Lília chega também e pede ao Dr. Edgar, nutricionista, que passe por lá. Ele é nutricionista oncológico, esteve a ver o meu caso e marcou consulta para o próximo dia de quimio. Vai ser espetacular ter as orientações do Dr. Edgar para conseguir aguentar melhor a quimio e potenciar o seu efeito.

Vou dormitando e já me administraram o medicamento que entretanto chegou da farmácia. Aquilo corre muito rapidamente e só é pena que não encontre uma posição confortável para dormir. O cateter central vai ser muito melhor. Comi um pão com manteiga e uvas e ainda fiquei com fome. Tive que ir duas vezes à casa de banho, sempre com o bengaleiro comigo, porque aquilo dá muita vontade de fazer xixi.

E, pronto, às 2:30 já estava a sair e desejosa de me enfiar na cama. Dormi um pouco e continuei com fome. Já estou a antecipar aqui um cenário de engorda… enfim. Mantenho-me muito sonolenta mas pode ser mesmo de não ter dormido. Amanhã é um novo dia e vou estando atenta a novos efeitos colaterais. 




18.1.25

Consulta de oncologia - Dra. Daniela

Na quarta-feira tive finalmente a consulta de oncologia no Hospital de Vila Real. Gostei muito da Dra. Daniela. Jovem, muito pragmática, mas com a dose certa de compaixão por quem tem um diagnóstico destes.

Informou-me de tudo, manteve-se disponível para responder a todas as minhas perguntas. É das minhas: traça os piores cenários para que sejamos surpreendidas com coisas boas. Para já, tem corrido tudo bem.

Informou-me que vou começar a quimio na próxima semana. Ao contrário do esperado, vou iniciar com aquela que é considerada a mais facilmente tolerada. Serão 12 rounds semanais. Começo por esta porque a outra requer a administração por cateter central e ainda não o tenho colocado. Para não atrasarmos o tratamento, faço já a quimio que pode ser recebida através de cateter periférico. A outra é de tal forma tóxica que queima o braço todo, por isso não é aconselhável fazê-lo sem o cateter central. Também provoca muita toxicidade no coração e vai ser necessário monitorizá-lo regularmente.

A quimio ataca as células que se estão a dividir mais rapidamente, ou seja as células cancerígenas. Acontece que o nosso cabelo e pêlo tem grande renovação celular, por isso é logo afetado. Estou apaziguada com essa questão, mas não duvido que me vá perturbar imenso ver-me sem cabelo. As pessoas olham para mim com muita pena porque me veem de cabelo tão comprido e acham que me vai custar mais. Acho que é igual. Mesmo às pessoas de cabelo curto deve custar verem-se carecas.

Outros efeitos colaterais são as aftas e gengivites, diarreia, falta de apetite, náuseas e cansaço. Trouxe uma receita para combater isso tudo. As unhas podem escurecer e recomendou-me que as pintasse de escuro. Estes são os efeitos secundários mais comuns e não quer dizer que os tenha a todos ou que não possa ter outros. 

Todas as terças feiras, durante 12 semanas, vou estar ligada à corrente a limpar qualquer célula maligna que tenha subsistido. Assim que terminar estas sessões, farei mais 4 sessões da tal quimio mais agressiva, que se irão distribuir por 2 meses. 

Antes de cada sessão, terei que fazer análises que avaliam a minha capacidade de receber a medicação. Se tudo estiver bem, avanço para a quimio. Se os valores não estiverem bons, nessa semana não poderei fazer o tratamento. 

Não trouxe grandes recomendações relativamente à alimentação ou suplementação. Acredito que estas façam toda a diferença no que diz respeito aos valores que preciso de ter nas análises ao sangue. Já agendei uma consulta de nutrição no hospital com um nutricionista especialista em oncologia. Sinceramente, não me apetece nada atrasar o tratamento de forma alguma, por isso, vou tentar colaborar de todas as formas possíveis. 

Já saí de lá com as análises feitas para que na terça-feira possa receber o meu tratamento. Uma colheita tão tranquila que nem sequer senti a agulha. Que delicadeza de enfermeira. 

O meu tumor já não está comigo, no entanto, por ser tão agressivo e por ter uma taxa de proliferação tão alta (90%) temos que garantir que nenhuma célula sobrevive em mim. Se não fizer estes tratamentos, a probabilidade de o tumor voltar nos próximos é muito grande. E eu não quero isso. Tenho muito para viver, tenho uma filhinha que precisa muito da sua mamã e uma mamã que já perdeu muito e não pode perder a sua filha. Estou muito grata por poder fazer os tratamentos, estou grata por haver tratamentos para o meu caso, estou grata por me sentir bem.