5.5.20

Procurar emprego

Durante mais de 10 anos, recebi milhares de CVs. Sim, devem ter sido uns milhares. Contratei centenas de pessoas. Fiz tantas, mas tantas entrevistas de emprego. Deixei pessoas à espera de resposta, outras vezes a resposta era negativa. Contratei algumas pessoas menos competentes porque havia falta de pessoal e precisava de alguém com urgência. Noutras alturas, os candidatos eram todos tão bons que deixei pessoas brilhantes de fora. Confesso que apaguei alguns CVs por serem ficheiros demasiado pesados - entupiam-me a caixa de correio. Garanto que não era insensível. Procurei sempre ver para além das competências profissionais de cada candidato. A mãe solteira, o moço que cuidava sozinho da mãe, o miúdo que queria pagar os estudos, a reformada que queria sentir-se produtiva... Tantas, mas tantas pessoas mereciam uma oportunidade, mas não consegui ajudá-los a todos. 
Hoje, eu estou no lugar de cada uma dessas pessoas. Voltei a preparar o meu CV. A última versão era de 2008. Não sei se esse documento consegue falar por mim. Acho que provavelmente não me contrataria. Penso sempre que as pessoas não acham que eu preciso de nada. E preciso! Preciso de trabalhar! Não sei não trabalhar! Estar em casa e cuidar de todos nós não me chega. 
Esta deve ser a pior altura de sempre para procurar emprego. Uma das empresas para onde concorri respondeu-me que recebem cerca de 10 mil candidaturas diárias. 10 mil! Como é que uma pessoa se destaca? Eu moro em Trás-os-Montes. Todos querem vir para cá em quarentena, mas aqui não há empregos. Aposto nos trabalhos à distância, a partir de cada, mais uma vez. 
Estou cansada de preencher formulários com a minha formação académica e profissional. Começo a impacientar-me e omito informação. Mas não desisto. LinkedIn, sites de emprego, portugueses e estrangeiros, nada me passa ao lado. E nada aparece. Estou cansada, mas estou determinada. 

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