2.9.22

A máquina de lavar roupa

Tinham acabado de jantar e ela ainda tinha que tratar da roupa que tinha deixado a lavar. Ele já tinha adormecido no sofá e ela tirava a roupa da máquina. Naquele momento, deu por si a pensar que mais parecia estar casada com um primo.


Nessa mesma noite, pediu-lhe o divórcio. 


Nunca tinham discutido, nunca houve uma voz mais elevada. Havia muito respeito mútuo e amizade. Tanta amizade que já não cabia num casamento. 


Ele ficou silencioso, em choque, com aquela decisão súbita. Depois, perguntou-lhe se havia alguém. Não, não havia ninguém. Era só ela que não queria viver naquele marasmo de trabalhar imenso, chegar a casa e preparar o jantar, tratar da roupa, da casa. No dia seguinte, a mesma coisa. E no seguinte, igual. 


Claro que ele compreendeu. Ele era o outro elemento daquela equação. Ele também vivia no marasmo. Só que ele estava confortável. 


Ambos saíram de casa e alugaram-na até a conseguirem vender.


Poucas semanas mais tarde, ela foi cuscar o Facebook dele. “O primo” que adormecia no sofá até ao dia seguinte tinha conhecido uma pessoa de um país tropical, tinha-se mudado para esse país tropical e passava a vida em festas, bem regadas a cerveja. 

Sem comentários:

Enviar um comentário