29.6.25

Quimioterapia - o fim

Acabei a quimioterapia no dia 27 de Maio e só estou a conseguir falar sobre isso agora. Sempre que tentava voltar aqui para escrever, chorava copiosamente. 

Falei brevemente no Instagram aqui e aqui só para assinalar as datas, mas foi muito doloroso. A verdade é que chorei mais neste último mês do que durante os 5 meses de tratamento. E isso foi muito surpreendente porque tudo o que eu queria era chegar a este dia 27 de Maio. Achava que ia ficar feliz, mas não fiquei. 

Quando me instalei para fazer tratamento, informei, entusiasmada, a enfermeira que era a minha última quimio. Só que ela não pareceu nada impressionada. Primeira desilusão. Não entendo como um marco tão importante na vida de um doente oncológico pode ser tão ignorado pelos profissionais de saúde que nos acompanham. Afetou-me profundamente. Claro que a minha médica também não apareceu. Sabem aqueles sininhos que costumam haver nos hospitais estrangeiros? Aqui não há! Nem isso, nem palavras de incentivo. 

Quando cheguei a casa, a minha querida mãe tinha-me comprado flores. E foi a única pessoa que percebeu verdadeiramente o que significou aquela última quimioterapia. E ela é que merecia as flores. Porque ver o que ela viu não é fácil. 

As outras pessoas que compreenderam foram as minhas colegas de luta. Pode parecer clichê, mas só mesmo quem passa por isto consegue avaliar. É tão importante esta comunidade de mulheres… Quer sejam aquelas que já passaram por isso e nos ajudam, quer sejam as que estão no início do processo e nós ajudamos. 

E de que forma nos ajudamos? Com partilha de informação, com escuta ativa… Para mim foi importantíssimo ter a amiga Ângela a esclarecer-me no início e entretanto várias outras pessoas chegaram à minha vida. Ajudas preciosas.

Resumindo, terminei uma etapa tão difícil e importante, mas não houve festa, não houve celebração, não houve nada. E por isso é que esta viagem é tão solitária. Mas fiquei triste e desiludi-me porque tive expectativas.

Passada aquela minha euforia de terminar o tratamento, foi altura de aguentar os efeitos secundários. Foram dias infernais, após o último tratamento. Ainda hoje me sinto envenenada e terei esse veneno dentro de mim. 

Apesar de eu ter maioritariamente náuseas e fadiga, o que se sente é muito mau. Talvez tenha sido pior porque já tinha passado por uma cirurgia, tinha começado pelas brancas e aguentar as vermelhas, que são as mais duras, no final de tudo, foi extremamente difícil. Ou seja, não há uma dor que eu possa identificar, mas doeu-me muito. Foi um desconforto enorme, uma dor de alma, uma inércia, um vazio… foi mau, muito mau. 

Quando me dizem que estes 5 meses de quimioterapia passaram rápido… como assim? Como se atrevem a dizer tal coisa? Foi penosamente lento! É querer tentar manter alguma normalidade, mas a maior parte das pessoas que nos rodeia só vê uma pessoa com cancro à frente. E sentem pena. Ou medo. Outros não conseguem lidar connosco e com a nossa imagem e afastam-se. E isso dói. Parece que desistiram de nós quando mais precisamos deles.

Neste último mês, o cabelo, pestanas e sobrancelhas começaram a crescer com maior vigor, mas o cabelo continua a cair. Continuei a engordar, apesar da dieta. As unhas das mãos estão ótimas, as dos pés ficaram agora um pouco escuras. Curiosamente, depois do tratamento acabar. Continuo a não me reconhecer ao espelho, mas gosto de mim. Percebo agora que nunca mais serei a mesma. Nunca mais terei a mesma imagem e não serei a mesma pessoa. Tenho menos dificuldade em dizer NAO e digo-o. 

A quimioterapia pode ter-me curado. Espero mesmo que o tenha feito. Corrijo: curou-me! É difícil, é dura, revolve-nos a alma, mas não é tão má como eu imaginei.

A primeira e a última. 




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