Confesso, estava cheia de medo da radioterapia.
A minha radio-oncologista é uma porreira e, tal como a minha oncologista, é jovem. Gosto! Dedicou-me imenso tempo, explicou-me tudo e até me explicou que o facto do meu tumor ter 90% de taxa de proliferação significava que responderia melhor à quimioterapia. Também disse que se não fizesse quimioterapia e radioterapia era 100% certo que o meu cancro voltaria. Explicou que a radioterapia não queima, ao contrário do que é comum achar-se. A radioterapia provoca inflamação nos tecidos, daí a alteração da cor e mesmo o aspeto queimado e dorido. Cada pessoa e cada pele reagem de forma diferente. A Dra. estava tranquila, falou da importância da radiação no meu tratamento e mostrou-se disponível para responder a qualquer dúvida que eu tivesse. Recomendou-me um creme, mas eu optei por outro.
Por fim, tinha dito que alguém da equipa de enfermagem me telefonaria a agendar a hora certa. Só tinha o dia e seria no dia 9 de Julho. Ninguém ligou. Quando me preparava para ligar para o serviço de radioterapia, recebo uma chamada a perguntar por que ainda não me tinha apresentado. Expliquei que ninguém me tinha ligado. Disseram que sim, que ligaram. Fui ver e ligaram, de facto, enquanto estava a ser operada para retirar o cateter, no dia 2 de Julho. Também não voltaram a ligar. Pediram que me apresentasse à 1 da tarde.
Nunca receei a radioterapia, mas uma colega destas andanças, ligada à saúde, disse que temia muito a radioterapia. E deixou-me a sementinha do medo. Também já tinha lido que os efeitos colaterais da radioterapia são subvalorizados e aí comecei a preocupar-me mesmo.
Tentei não pensar muito no assunto nos dias anteriores. Nunca fui assim, sempre fui super ansiosa. Mas quando somos confrontados com a nossa finitude, aprendemos a gerir melhor as emoções e poupamo-nos a sofrimentos desnecessários.
A minha mãe quis acompanhar-me à sala de espera. Mantive a postura forte de assumi desde o primeiro dia mas, quando chamaram “Mara Cristiana”, desabei. Atravessei aquele corredor a chorar. A técnica que me conduziu ao vestiário foi incrível, deu-me a mão e tranquilizou-me, porém sem grande sucesso porque não me conseguiu acalmar.
Aquilo tudo era medo do desconhecido, do que virá depois deste tratamento, mas também o peso emocional de tudo o que estou a viver no pós-quimioterapia. Não é fácil gerir tantas emoções.
No vestiário, troquei de roupa para uma espécie de bata. Depois, entrei para a sala de radioterapia. Só me aquietei quando entrei e enfrentei o touro pelos cornos. Fui recebida por profissionais impecáveis, muito calmas e acolhedoras. Contei-lhes que ter informação me tranquiliza e elas, sobretudo a Cristiana, foram explicando cada passo com todo carinho. Isso fez toda a diferença comigo.
Deitei-me naquela maca dura e desconfortável e resolvi confiar no que me diziam. De barriga para cima e braços para trás, as técnicas calibraram e ajustaram tudo ao meu corpo. Tinha que estar alinhado com as tatuagens que deixaram na minha pele.
Depois de tudo concluído, as técnicas saíram da sala e eu fiquei sozinha. Elas iam falando comigo através do intercomunicador. Eu não podia responder, tinha que me manter absolutamente imóvel, respiração superficial… só podia mexer os dedos das mãos. A radioterapia é de tal forma precisa que qualquer movimento fará interromper o tratamento. Não me mexi nem um milímetro e, quando acabou, já tinha a mão esquerda dormente. Isto foi o mais difícil.
A Cristiana explicou tudo, tudo, todos os termos técnicos, que eu entretanto esqueci devido à memória de galinha que a quimioterapia me deixou.
A máquina gira à nossa volta e nunca se aproxima da cara, que era o meu receio. A parte do tratamento propriamente dito foi rápida e indolor. Não, não queima, não se sente nada, só se ouvem uns barulhinhos engraçados. Passei grande parte do tempo de olhos abertos a observar os movimentos.
Demorou mais um pouco por ser a primeira sessão, mas as próximas serão mais curtas. Primeiro, faz-se uma imagem, depois quatro tratamentos. 2 deles demoram certa de 15 segundos e os outros dois, por serem em arco, em que a máquina roda sobre nós como um arco-íris, demora um pouco mais, talvez 1 minuto de cada vez.
Sempre que recebemos radiação, acendem-se umas luzes vermelhas e o som é diferente. Quanto o tratamento terminou, avisaram que podia baixar os braços, mas devia permanecer deitada porque a maca estava muito alta. As técnica entretanto entram na sala e ajudam-me a sair. E está feito.
Saí da sala muito mais leve do que entrei. Ainda com cara de choro, claro, mas com uma sensação silenciosa de coragem, mesmo com medo.
Entretanto, já fiz 9 sessões de radioterapia. Nunca mais chorei. Não custa mesmo nada. Só de pensar que tinha preferido fazer mais 1 mês de quimioterapia em troca, até me arrepia.
Também tive consulta de enfermagem onde me foi explicado que deveria usar roupas de algodão, claras, e largas para não agredirem a pele. Se sentisse necessidade de usar soutien, deveria usar uma t-shirt primeiro e depois o soutien por cima para não agredir a pele. Hidratar com o creme recomendado 3 vezes por dia e tomar banho com um óleo lavante. Ter cuidado com as agressões à pele, não apanhar sol nem calor, e água do banho mais para o frio.
A 6 sessões do final, sinto o mamilo diferente do outro. Está mais escuro e um pouco inchado. Também a zona da mama onde a cirurgia interna aconteceu está um pouco mais retraída. Antes, a minha mama estava absolutamente normal e agora está repuxada. Hidrato sempre muito, mas também massajo para que a pele mantenha a elasticidade.
Sei que os efeitos adversos podem surgir mais no final do tratamento e após. Ainda é cedo para avaliar, mas não me sinto mal. Não estava à espera, mas estou bastante cansada e nauseada. Podem ser ainda efeitos da quimioterapia, já que acabei há apenas 1 mês e meio. O envenenamento a que fui sujeita não sai do corpo assim tão facilmente. Há que ter paciência.
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