14.1.25

Life lately

Não me tem apetecido escrever. Não estou deprimida, mas estou bastante aborrecida com o facto de não estar a fazer nada em prol da minha cura. Não há avanços na quimio, e no público tudo demora muito tempo a acontecer. 

Nesta última semana o braço tem-me causado muito desconforto. Estou um pouco constipada e sem energia e, consequentemente, não me mexi muito. Senti imediatamente reflexo disso no braço. Tenho muita dor e não consigo esticá-lo. É o meu braço direito, limita-me imenso. 

Durante a consulta de cirurgia, fui logo avisada que a fisioterapia do hospital tem uma lista de espera imensa. Contactei o centro de saúde para que o meu médico de família me requisitasse fisioterapia para fazer no privado, mas disseram-me que não estava disponível naquela semana. Enfim, fui aguentando.

Para além das sessões diárias de fisioterapia que o Filipe tem na clínica, há também uma terapeuta que vem cá a casa semanalmente. Este domingo, ela esteve cá em casa e esteve a trabalhar no meu braço. Foi incrível! Foi muito doloroso, mas desbloqueou-me logo o braço e consegui ter mais mobilidade. A fisioterapia é importantíssima! Já enviei um email ao meu médico de família para ver se consigo marcar umas sessões no privado.

Para além disso, fui ao cabeleireiro. Fiz uma franja para tentar assemelhar o cabelo ao tipo de perucas que penso que vou usar. Prefiro perucas com franja porque me parecem mais naturais. Mas já me arrependi de fazer a franja. Além de não gostar de me ver, não a consigo controlar muito bem. Também não importa muito porque não tarda nada já fico sem cabelo. 

Hoje também foi dia de ir fazer microblading. As minhas sobrancelhas definem muito o meu rosto. Acredito que seja mais chocante para mim ver-me sem sobrancelhas do que sem cabelo. Por isso, por recomendação da enfermeira Alda da Associação Borboletas, fui fazer microblading para haver qualquer coisa parecido com sobrancelhas quando estas caírem.

Não sei se é da constipação ou da doença, mas tenho andado com muito pouca energia. Tomo diariamente Imunoplus, vitamina C, vitamina D e colagénio, mas não têm surtido grande resultado. 

Preciso urgentemente de começar os tratamentos, preciso de sentir que estou fazer alguma coisa. Não sei nada sobre a colocação do cateter no privado… no público nem se fala. Provavelmente, vou começar os tratamentos ainda sem ele colocado. 

Na quarta-feira tenho consulta de oncologia e espero já ter mais novidades. 









6.1.25

Consulta de cirurgia (CHTMAD)

Hoje tive a minha consulta de cirurgia no Hospital de Vila Real (CHTMAD). Percebem porque tive que ser operada no privado? Fiz a minha cirurgia há 3 semanas e, se não o tivesse feito, só agora estaria a dar início ao meu processo cirúrgico, exames adicionais e finalmente uma data.

O médico que me recebeu foi impecável e, naturalmente, compreendeu a minha decisão, mas alertou-me para as vantagens do serviço nacional de saúde. Levei-lhe todos os relatórios que tinha e ele ficou bem por dentro do caso, até porque uma amiga minha (que também é cirurgiã no mesmo hospital) já lhe tinha falado em mim.

Quando lhe disse que ponderava fazer a quimio no Hospital da Trofa, desaconselhou-me veementemente. Relembrou-me que no CHTMAD há uma equipa multidisciplinar a avaliar todos os casos, concretamente um cirurgião oncológico, um radiologista e um oncologista. Todos eles me seguirão nos próximos anos, após os tratamentos. O CHTMAD tem os melhores equipamentos e todos os processos são amplamente estudados e discutidos. Também disse que são regularmente auditados e que usam as melhores práticas. Aliás, o meu caso vai ser discutido em reunião de grupo já amanhã. 

O que eu aprecio no privado é a tranquilidade e a rapidez do serviço. Não me arrependo da decisão que tomei em avançar com a cirurgia no privado. E quando olho para a mama absolutamente perfeita também não. Atrevo-me a dizer que a parte estética poderia não ser uma preocupação num hospital público a lutar contra listas de espera. 

Aconteceu-me uma situação hoje no CHTMAD que achei muito desagradável e é o espelho do mau funcionamento das instituições públicas. Estive num edifício a ter a consulta de cirurgia. O médico passou-me umas análises para fazer um teste genético e disse para me dirigir a secção das análises no mesmo edifício. Aguardei a minha vez (aquilo parecia uma feira de tanta gente que se amontoava) para me dizerem que a genética não era ali e que tinha que me dirigir ao edifício de genética. Vou até lá, subo ao 1o andar e dizem-me que tenho que ir para o edifício de oncologia. Coincidentemente, falava ao telefone com a minha cunhada que fez um telefonema me e me resolveu o problema. Fiz a colheita ali mesmo e, em 30 segundos, tive o assunto resolvido. Ou seja, também não era no edifício de oncologia. Era no primeiro lugar onde estive e eles internamente faziam chegar a colheita ao local correto.

Eu sinto-me bem, estou bem fisicamente, posso deslocar-me e fazer longas caminhadas a pé e ao frio e não me custou nada andar a passear pelo hospital. Mas penso muito em quem está mais débil (possivelmente eu daqui a uns tempos), fraco, doente e anda a fazer maratonas porque umas pessoas não são bons profissionais ou simplesmente não querem saber. 

Toda a minha experiência, com excepção do tempo de espera para se agir para a resolução do meu problema de saúde, tem sido francamente boa. Noto muita empatia da parte dos profissionais de saúde e confiança nos seus conhecimentos para me ajudarem a sair desta. 

O médico amanhã vai ligar-me para confirmar o plano de tratamento e deu-me aval para colocar o cateter no privado, na tentativa de, também aqui, poupar algum tempo. Espero que o meu seguro também dê o seu aval. 

2.1.25

Cancro de mama Luminal B

Tinha agendado uma consulta com a oncologista, Dra. Marta. Passei a noite acordada a pensar na cintilografia. Às 4 da manhã ainda não dormia. 

De manhã, eu achava que ia dormir mas, às 9, ligam do Hospital da Trofa a dizer que a Dra. Ana Sofia precisava de falar comigo e para marcar consulta para amanhã. Já não consegui voltar a dormir. Não conseguia aguentar até amanhã. Já que ia falar com a Dra. Marta hoje, aproveitei e perguntei à Dra. Sofia se podíamos falar hoje. Tranquilizou-me.

Consulta de oncologia

A Dra. Marta confirmou que já tinha chegado o resultado da anatomia patológica das peças retiradas na cirurgia. Nada de novo. Podíamos avançar com os tratamentos. Falou comigo com muito cuidado e delicadeza e disse que, pelo facto de ainda ser fértil e o tumor ser muito agressivo, teria que fazer quimioterapia. E radioterapia. E hormonoterapia. 

Aquele discurso tão suave causou-me mais ansiedade porque achei que vinha de lá alguma má notícia. Eu já sabia que teria que fazer isso tudo. Ela foi com pezinhos de lã porque todos sabemos quais as consequências habituais da quimio e, acredito, para muitas mulheres será o pior. Para mim, não é. Pelo menos, para já, o pior são os exames de diagnóstico, devido à minha claustrofobia. Expliquei-lhe que me recuso a fazer PETs e afins e ela concordou que, por agora, podemos saltar essa etapa. Percebo que a determinada altura terei de fazer.

Consulta de cirurgia 

Fui ter com a minha adorada Dra. Ana Sofia. Ligou logo à Dra. Marta a perguntar desde quando é que eu mandava alguma coisa. Que tinha que fazer os exames e mais nada. Do outro lado, tranquilizaram-na.

Aproveitámos e drenamos mais linfa. Mais 3 ou 4 seringas. Isto está a produzir muito mais do que quando andava com o dreno. 

Vai fazer pedido ao seguro para fazermos a colocação do cateter. Se puder avançar já com isso, não espero para entrar nas filas de espera do público. Depois, disse-me que o Hospital da Trofa também já administrava quimioterapia. Também vamos ver se o seguro aprova. Se não ficar muito caro para mim, faço também no Hospital da Trofa. Caso contrário, vou para o Hospital de Vila Real, que tem um serviço fantástico.

Tive a confirmação que o meu cancro é um Luminal B. Já tinha visto isto num relatório, mas não sabia que era o seu tipo. É tramado o bicho!





1.1.25

Feliz Ano Novo

Era bom que a cada ano que se inicia pudéssemos fazer um reset de tudo e ter novas oportunidades. Não sei se faria alguma coisa de diferente porque também não sei o que provocou o meu cancro, mas adorava não o ter. Passava bem sem essa experiência.

O que era de 2024 transita inevitavelmente para 2025. A única coisa que podemos alterar é a nossa reação e atitude perante o que vamos vivendo. Vou tentar manter uma postura positiva, mas entendo que nem sempre será assim.

Admito que a maior parte do tempo não me sinto doente. Não me sinto uma doente oncológica. Mas sou-o. Vou tendo o braço, que está preguiçoso, a lembrar-me. Isso e o facto de ter uma agenda completamente associada à doença. 

E amanhã é dia de conhecer a minha oncologista do Hospital da Trofa. Já me disseram que é uma simpatia e vou cheia de perguntas para lhe fazer. 



31.12.24

Cronologia de um Cancro da Mama

4 de Outubro de 2024 - O médico de família pede-me uma ecografia mamária

(Algures entre estas datas, começo a sentir o nódulo na mama)

26 de Novembro de 2024 - Ecografia no Hospital da Luz (diagnóstico BI-RADS 4 e consequente pedido de biópsia)

27 de Novembro de 2024 - Falo com o médico de família para agendar a biópsia urgente no hospital público de Vila Real. Há outros pedidos internos para apressar o exame, que fica marcado para dia 12 de Dezembro. 

29 de Novembro de 2024 - Biópsia no Hospital da Luz

5 de Dezembro de 2024: 

- Resultado da biópsia: carcinoma invasor de grau 3

- Consulta com a Dra. Ana Sofia Esteves no Hospital da Trofa 

- Análises ao sangue. Aparentemente tudo bem.

- TAC toraco-abdomino-pélvica. Lesão identificada e aparentemente isolada. Restantes órgãos ok.

12 de Dezembro de 2024:

- Se fosse seguir o plano do sistema nacional de saúde, só neste dia faria a biópsia e ainda teria que esperar pelo resultado. Resolvemos fazer estes exames de qualquer forma (com excepção da biópsia) porque darão mais clareza sobre a lesão e porque os aparelhos são melhores que os dos hospitais privados locais.  

- Mamografia no Hospital de Vila Real 

- Ecografia no Hospital de Vila Real 

19 de Dezembro de 2024:

- Linfocintigrafia em Braga

- Cirurgia no Hospital da Trofa de Vila Real

20 de Dezembro de 2024 - Regresso a casa

23 de Dezembro de 2024 - Remoção do dreno

30 de Dezembro de 2024:

- Drenagem com agulha

- Remoção dos pontos 

Drenagem com agulha e remoção dos pontos

Nos últimos dias, tenho andado com mais dores e nem tem apetecido escrever.

No dia 27, tive uma consulta online de nutrição na clínica da Dra. Tâmara Castelo. Fizeram-me o questionário da praxe e uma enviaram-me umas orientações para aumento da imunidade.

Após a remoção do dreno, a zona abaixo da axila inchou bastante, causando-me dor e desconforto. Fiz reação aos pensos e tenho toda a zona meio queimada. Fiquei com medo de mexer o braço, não tinha posição para dormir. Voltei a tomar paracetamol, fiz gelo. Como ia hoje, dia 30, à consulta com a Dra. Ana Sofia, resolvi aguentar estoicamente. 

À chegada, a Dra. achou estranho eu ter dores, pois a cirurgia não o justificava. Quando viu a bola que tinha abaixo da axila, já percebeu e repreendeu-me por não lhe ter ligado. Perguntou-me se tinha colocado a bola anti-stress debaixo do braço e admiti que não o tinha feito muito. Aquela pressão teria sido muito benéfica. 

Agora que o mal estava feito, a única solução era drenar com agulha. Pareceu-me uma coisa super assustadora, tendo em conta que a zona me doía imenso, mas a Dra. Ana Sofia tem mãos de fada. Tal como a remoção do dreno, também agora foi tudo feito com máximo cuidado e zero dor. 

Eu sou aquele tipo de pessoa que gosta de ver tudo, mas quando estou a viver as coisas não consigo olhar. Pedi à MV para filmar porque eu não queria perder pitada disto. Foram 4 seringas cheias de líquido e ainda há a possibilidade de ter que voltar lá para tirar mais. 

Saí de lá sem pontos e já posso tomar banho livremente. Não sei se consigo expressar bem a falta que um banho completo me fazia. Como não podia molhar os pensos, isso condicionava-me os banhos. Habitualmente, lavava o cabelo primeiro. Depois, com o chuveiro tentava tomar banho sem tocar na zona direita. Também era muito rápido, por causa da humidade. Ontem, porém, não aguentei, e tomei banho, mesmo molhando os pensos. Que sensação incrível! No final, sequei tudo e fiz novos pensos. Ficaram uma cagada, mas como hoje a doutora ia ver, não me preocupei muito. 

Em casa, tenho a recomendação de aplicar Cicalfate + e usar a bola debaixo do braço. O braço continua um pouco dorido. Sinto que ainda há material aqui dentro para sair. A sutura da mama está impecável e não dói. A da axila já não posso dizer o mesmo, mas não é uma dor que me obrigue a tomar analgésico. 

Como já passa da meia noite, hoje é o último dia do ano. Não acredito em recomeços, nem em novas oportunidades em 2025. Os problemas de 2024 vêm connosco para 2025. Só espero que por esta altura, daqui a um ano, já me sinta mais aliviada e com esperança no futuro.