21.1.25

Quimio 1/12



Foi hoje o primeiro dia de quimio. 

Não estava particularmente ansiosa. Pelo menos, não era aquela ansiedade má que sinto quando vou fazer alguma coisa que me intimida. Era uma ansiedade de querer fazer, de entusiasmo e de borboletas no estômago. 

Não dormi nada. Às 3 ainda estava acordada e às 4:30 o Filipe estava cheio de febre e pediu-me uma toalha fria molhada. Fiquei acordada até às 6. Às 7:30 o despertador toca para preparar a MV para o colégio. Dormi a partir das 8:30, mas o Filipe acorda-me novamente às 9. Às 10 saio da cama para tomar banho e me preparar para o dia. Tomo pequeno-almoço, o que habitualmente não faço. A minha mãe preparou-me torradas e ovos mexidos, abacate e beterraba. Já não consegui comer o mamão. Antes de sair, preparei o pequeno-almoço ao Filipe para ele tomar um Brufen. Entretanto, a D. São também chegava a casa e já o orientava. 

A minha mãe quis acompanhar-me para perceber como tudo acontece, mas sinceramente não é necessário que volte a fazê-lo. Não há espaço para se sentarem e, na verdade, não estão lá a fazer nada. 

Comecei por me apresentar na recepção 15 minutos antes das 12. e aguardei que me chamassem. 5 minutos depois estava a entrar para a sala onde administram os tratamentos. É uma sala comprida e há cadeirões reclináveis dispostos ao longo das paredes. Tem grandes janelas que dão para o exterior e a luz ilumina a sala toda. Hoje estava nublado, portanto os níveis de luz eram baixos. Nessas cadeiras, umas 8 pessoas recebiam tratamento. Eram maioritariamente idosos. Os enfermeiros têm a sua estação de trabalho ao centro e encaminharam-me para uma dessas cadeiras. 

A Sandrinha chega para me ir vir e emociona-se. E eu também por vê-la assim. Os enfermeiros aproximam-se para me colocarem o cateter periférico e aí a Sandra já não aguentou e foi embora.

Colocaram-me o cateter no braço e é desconfortável, como sempre. Felizmente, vou colocar o cateter central já na quinta-feira, no Hospital da Trofa. Não consegui arranjar uma posição cómoda para o braço durante todo o tratamentos.

Não sei o que me aplicaram, mas descobri mais tarde que ainda não era o tratamento. Entretanto, fui a outra sala, sempre com aquilo que mais parece um bengaleiro com rodas, falar com uma enfermeira que me fez algumas recomendações. Focou-se nos cuidados com a alimentação, que se assemelham àqueles que as grávidas têm, cuidados com a pele e a higiene oral. Também trouxe de lá um saquinho com algumas amostras que posso usar durante os tratamentos.

De volta à sala de tratamento. No caminho, passei por outra sala que tinha outras pessoas a receber tratamento mas em camas.

Entretanto, recebi mais um remédio que provoca sonolência. É um medicamento para prevenir um efeito secundário qualquer. Já não me recordo. A Lília chega também e pede ao Dr. Edgar, nutricionista, que passe por lá. Ele é nutricionista oncológico, esteve a ver o meu caso e marcou consulta para o próximo dia de quimio. Vai ser espetacular ter as orientações do Dr. Edgar para conseguir aguentar melhor a quimio e potenciar o seu efeito.

Vou dormitando e já me administraram o medicamento que entretanto chegou da farmácia. Aquilo corre muito rapidamente e só é pena que não encontre uma posição confortável para dormir. O cateter central vai ser muito melhor. Comi um pão com manteiga e uvas e ainda fiquei com fome. Tive que ir duas vezes à casa de banho, sempre com o bengaleiro comigo, porque aquilo dá muita vontade de fazer xixi.

E, pronto, às 2:30 já estava a sair e desejosa de me enfiar na cama. Dormi um pouco e continuei com fome. Já estou a antecipar aqui um cenário de engorda… enfim. Mantenho-me muito sonolenta mas pode ser mesmo de não ter dormido. Amanhã é um novo dia e vou estando atenta a novos efeitos colaterais. 




18.1.25

Consulta de oncologia - Dra. Daniela

Na quarta-feira tive finalmente a consulta de oncologia no Hospital de Vila Real. Gostei muito da Dra. Daniela. Jovem, muito pragmática, mas com a dose certa de compaixão por quem tem um diagnóstico destes.

Informou-me de tudo, manteve-se disponível para responder a todas as minhas perguntas. É das minhas: traça os piores cenários para que sejamos surpreendidas com coisas boas. Para já, tem corrido tudo bem.

Informou-me que vou começar a quimio na próxima semana. Ao contrário do esperado, vou iniciar com aquela que é considerada a mais facilmente tolerada. Serão 12 rounds semanais. Começo por esta porque a outra requer a administração por cateter central e ainda não o tenho colocado. Para não atrasarmos o tratamento, faço já a quimio que pode ser recebida através de cateter periférico. A outra é de tal forma tóxica que queima o braço todo, por isso não é aconselhável fazê-lo sem o cateter central. Também provoca muita toxicidade no coração e vai ser necessário monitorizá-lo regularmente.

A quimio ataca as células que se estão a dividir mais rapidamente, ou seja as células cancerígenas. Acontece que o nosso cabelo e pêlo tem grande renovação celular, por isso é logo afetado. Estou apaziguada com essa questão, mas não duvido que me vá perturbar imenso ver-me sem cabelo. As pessoas olham para mim com muita pena porque me veem de cabelo tão comprido e acham que me vai custar mais. Acho que é igual. Mesmo às pessoas de cabelo curto deve custar verem-se carecas.

Outros efeitos colaterais são as aftas e gengivites, diarreia, falta de apetite, náuseas e cansaço. Trouxe uma receita para combater isso tudo. As unhas podem escurecer e recomendou-me que as pintasse de escuro. Estes são os efeitos secundários mais comuns e não quer dizer que os tenha a todos ou que não possa ter outros. 

Todas as terças feiras, durante 12 semanas, vou estar ligada à corrente a limpar qualquer célula maligna que tenha subsistido. Assim que terminar estas sessões, farei mais 4 sessões da tal quimio mais agressiva, que se irão distribuir por 2 meses. 

Antes de cada sessão, terei que fazer análises que avaliam a minha capacidade de receber a medicação. Se tudo estiver bem, avanço para a quimio. Se os valores não estiverem bons, nessa semana não poderei fazer o tratamento. 

Não trouxe grandes recomendações relativamente à alimentação ou suplementação. Acredito que estas façam toda a diferença no que diz respeito aos valores que preciso de ter nas análises ao sangue. Já agendei uma consulta de nutrição no hospital com um nutricionista especialista em oncologia. Sinceramente, não me apetece nada atrasar o tratamento de forma alguma, por isso, vou tentar colaborar de todas as formas possíveis. 

Já saí de lá com as análises feitas para que na terça-feira possa receber o meu tratamento. Uma colheita tão tranquila que nem sequer senti a agulha. Que delicadeza de enfermeira. 

O meu tumor já não está comigo, no entanto, por ser tão agressivo e por ter uma taxa de proliferação tão alta (90%) temos que garantir que nenhuma célula sobrevive em mim. Se não fizer estes tratamentos, a probabilidade de o tumor voltar nos próximos é muito grande. E eu não quero isso. Tenho muito para viver, tenho uma filhinha que precisa muito da sua mamã e uma mamã que já perdeu muito e não pode perder a sua filha. Estou muito grata por poder fazer os tratamentos, estou grata por haver tratamentos para o meu caso, estou grata por me sentir bem. 

14.1.25

Life lately

Não me tem apetecido escrever. Não estou deprimida, mas estou bastante aborrecida com o facto de não estar a fazer nada em prol da minha cura. Não há avanços na quimio, e no público tudo demora muito tempo a acontecer. 

Nesta última semana o braço tem-me causado muito desconforto. Estou um pouco constipada e sem energia e, consequentemente, não me mexi muito. Senti imediatamente reflexo disso no braço. Tenho muita dor e não consigo esticá-lo. É o meu braço direito, limita-me imenso. 

Durante a consulta de cirurgia, fui logo avisada que a fisioterapia do hospital tem uma lista de espera imensa. Contactei o centro de saúde para que o meu médico de família me requisitasse fisioterapia para fazer no privado, mas disseram-me que não estava disponível naquela semana. Enfim, fui aguentando.

Para além das sessões diárias de fisioterapia que o Filipe tem na clínica, há também uma terapeuta que vem cá a casa semanalmente. Este domingo, ela esteve cá em casa e esteve a trabalhar no meu braço. Foi incrível! Foi muito doloroso, mas desbloqueou-me logo o braço e consegui ter mais mobilidade. A fisioterapia é importantíssima! Já enviei um email ao meu médico de família para ver se consigo marcar umas sessões no privado.

Para além disso, fui ao cabeleireiro. Fiz uma franja para tentar assemelhar o cabelo ao tipo de perucas que penso que vou usar. Prefiro perucas com franja porque me parecem mais naturais. Mas já me arrependi de fazer a franja. Além de não gostar de me ver, não a consigo controlar muito bem. Também não importa muito porque não tarda nada já fico sem cabelo. 

Hoje também foi dia de ir fazer microblading. As minhas sobrancelhas definem muito o meu rosto. Acredito que seja mais chocante para mim ver-me sem sobrancelhas do que sem cabelo. Por isso, por recomendação da enfermeira Alda da Associação Borboletas, fui fazer microblading para haver qualquer coisa parecido com sobrancelhas quando estas caírem.

Não sei se é da constipação ou da doença, mas tenho andado com muito pouca energia. Tomo diariamente Imunoplus, vitamina C, vitamina D e colagénio, mas não têm surtido grande resultado. 

Preciso urgentemente de começar os tratamentos, preciso de sentir que estou fazer alguma coisa. Não sei nada sobre a colocação do cateter no privado… no público nem se fala. Provavelmente, vou começar os tratamentos ainda sem ele colocado. 

Na quarta-feira tenho consulta de oncologia e espero já ter mais novidades. 









6.1.25

Consulta de cirurgia (CHTMAD)

Hoje tive a minha consulta de cirurgia no Hospital de Vila Real (CHTMAD). Percebem porque tive que ser operada no privado? Fiz a minha cirurgia há 3 semanas e, se não o tivesse feito, só agora estaria a dar início ao meu processo cirúrgico, exames adicionais e finalmente uma data.

O médico que me recebeu foi impecável e, naturalmente, compreendeu a minha decisão, mas alertou-me para as vantagens do serviço nacional de saúde. Levei-lhe todos os relatórios que tinha e ele ficou bem por dentro do caso, até porque uma amiga minha (que também é cirurgiã no mesmo hospital) já lhe tinha falado em mim.

Quando lhe disse que ponderava fazer a quimio no Hospital da Trofa, desaconselhou-me veementemente. Relembrou-me que no CHTMAD há uma equipa multidisciplinar a avaliar todos os casos, concretamente um cirurgião oncológico, um radiologista e um oncologista. Todos eles me seguirão nos próximos anos, após os tratamentos. O CHTMAD tem os melhores equipamentos e todos os processos são amplamente estudados e discutidos. Também disse que são regularmente auditados e que usam as melhores práticas. Aliás, o meu caso vai ser discutido em reunião de grupo já amanhã. 

O que eu aprecio no privado é a tranquilidade e a rapidez do serviço. Não me arrependo da decisão que tomei em avançar com a cirurgia no privado. E quando olho para a mama absolutamente perfeita também não. Atrevo-me a dizer que a parte estética poderia não ser uma preocupação num hospital público a lutar contra listas de espera. 

Aconteceu-me uma situação hoje no CHTMAD que achei muito desagradável e é o espelho do mau funcionamento das instituições públicas. Estive num edifício a ter a consulta de cirurgia. O médico passou-me umas análises para fazer um teste genético e disse para me dirigir a secção das análises no mesmo edifício. Aguardei a minha vez (aquilo parecia uma feira de tanta gente que se amontoava) para me dizerem que a genética não era ali e que tinha que me dirigir ao edifício de genética. Vou até lá, subo ao 1o andar e dizem-me que tenho que ir para o edifício de oncologia. Coincidentemente, falava ao telefone com a minha cunhada que fez um telefonema me e me resolveu o problema. Fiz a colheita ali mesmo e, em 30 segundos, tive o assunto resolvido. Ou seja, também não era no edifício de oncologia. Era no primeiro lugar onde estive e eles internamente faziam chegar a colheita ao local correto.

Eu sinto-me bem, estou bem fisicamente, posso deslocar-me e fazer longas caminhadas a pé e ao frio e não me custou nada andar a passear pelo hospital. Mas penso muito em quem está mais débil (possivelmente eu daqui a uns tempos), fraco, doente e anda a fazer maratonas porque umas pessoas não são bons profissionais ou simplesmente não querem saber. 

Toda a minha experiência, com excepção do tempo de espera para se agir para a resolução do meu problema de saúde, tem sido francamente boa. Noto muita empatia da parte dos profissionais de saúde e confiança nos seus conhecimentos para me ajudarem a sair desta. 

O médico amanhã vai ligar-me para confirmar o plano de tratamento e deu-me aval para colocar o cateter no privado, na tentativa de, também aqui, poupar algum tempo. Espero que o meu seguro também dê o seu aval. 

2.1.25

Cancro de mama Luminal B

Tinha agendado uma consulta com a oncologista, Dra. Marta. Passei a noite acordada a pensar na cintilografia. Às 4 da manhã ainda não dormia. 

De manhã, eu achava que ia dormir mas, às 9, ligam do Hospital da Trofa a dizer que a Dra. Ana Sofia precisava de falar comigo e para marcar consulta para amanhã. Já não consegui voltar a dormir. Não conseguia aguentar até amanhã. Já que ia falar com a Dra. Marta hoje, aproveitei e perguntei à Dra. Sofia se podíamos falar hoje. Tranquilizou-me.

Consulta de oncologia

A Dra. Marta confirmou que já tinha chegado o resultado da anatomia patológica das peças retiradas na cirurgia. Nada de novo. Podíamos avançar com os tratamentos. Falou comigo com muito cuidado e delicadeza e disse que, pelo facto de ainda ser fértil e o tumor ser muito agressivo, teria que fazer quimioterapia. E radioterapia. E hormonoterapia. 

Aquele discurso tão suave causou-me mais ansiedade porque achei que vinha de lá alguma má notícia. Eu já sabia que teria que fazer isso tudo. Ela foi com pezinhos de lã porque todos sabemos quais as consequências habituais da quimio e, acredito, para muitas mulheres será o pior. Para mim, não é. Pelo menos, para já, o pior são os exames de diagnóstico, devido à minha claustrofobia. Expliquei-lhe que me recuso a fazer PETs e afins e ela concordou que, por agora, podemos saltar essa etapa. Percebo que a determinada altura terei de fazer.

Consulta de cirurgia 

Fui ter com a minha adorada Dra. Ana Sofia. Ligou logo à Dra. Marta a perguntar desde quando é que eu mandava alguma coisa. Que tinha que fazer os exames e mais nada. Do outro lado, tranquilizaram-na.

Aproveitámos e drenamos mais linfa. Mais 3 ou 4 seringas. Isto está a produzir muito mais do que quando andava com o dreno. 

Vai fazer pedido ao seguro para fazermos a colocação do cateter. Se puder avançar já com isso, não espero para entrar nas filas de espera do público. Depois, disse-me que o Hospital da Trofa também já administrava quimioterapia. Também vamos ver se o seguro aprova. Se não ficar muito caro para mim, faço também no Hospital da Trofa. Caso contrário, vou para o Hospital de Vila Real, que tem um serviço fantástico.

Tive a confirmação que o meu cancro é um Luminal B. Já tinha visto isto num relatório, mas não sabia que era o seu tipo. É tramado o bicho!





1.1.25

Feliz Ano Novo

Era bom que a cada ano que se inicia pudéssemos fazer um reset de tudo e ter novas oportunidades. Não sei se faria alguma coisa de diferente porque também não sei o que provocou o meu cancro, mas adorava não o ter. Passava bem sem essa experiência.

O que era de 2024 transita inevitavelmente para 2025. A única coisa que podemos alterar é a nossa reação e atitude perante o que vamos vivendo. Vou tentar manter uma postura positiva, mas entendo que nem sempre será assim.

Admito que a maior parte do tempo não me sinto doente. Não me sinto uma doente oncológica. Mas sou-o. Vou tendo o braço, que está preguiçoso, a lembrar-me. Isso e o facto de ter uma agenda completamente associada à doença. 

E amanhã é dia de conhecer a minha oncologista do Hospital da Trofa. Já me disseram que é uma simpatia e vou cheia de perguntas para lhe fazer.