19.2.25
Quimio 5/12
17.2.25
I feel good
Amanhã faço a 5a sessão de quimioterapia. Falando muito honestamente, não me sinto doente, não tenho sentido efeitos secundários de relevo e tenho conseguido fazer uma vida relativamente normal.
A sensação que tenho é semelhante à que senti na gravidez. Tinha a informação de que estava grávida, mas não me senti grávida até às 18 semanas, quando senti a minha filhota a mexer na minha barriga. Até lá, confiava nas imagens das ecografias, já que não tive enjoos ou outras maleitas.
Agora é mais ou menos a mesma coisa. Nunca me senti doente, embora tenha sentido aquele nódulo. Informaram-me que tinha um tumor maligno. Os exames de diagnóstico que fiz causaram-me mais stress do que os procedimentos cirúrgicos. Nunca tive dor que não passasse com um paracetamol.
Com a quimioterapia acontece o mesmo. Alertaram-me para os efeitos adversos, mas até agora só mesmo o cansaço e a queda de cabelo se manifestaram.
Eu sei que ainda é cedo e que vai ser difícil, mas eu sinto-me mesmo bem. Não me sinto doente e não me comporto como doente. Não gosto de me vitimizar, mas permito-me parar quando estou cansada. Procuro manter-me activa e retomei o exercício na semana passada. Faço caminhadas sempre o que sol me convida e ontem até andei de bicicleta. Tendo em conta tudo isto, como posso reclamar? Sou muito sortuda, é o que sou.
A questão do cabelo começa a perturbar-me porque não sei como me apresentar em público com auto-confiança. Tenho saído com perucas, mas assim que chego a casa tiro-a. Não é confortável e sinto-me a usar um disfarce. Parece que está toda a gente a olhar para mim. Não gosto de usar gorros ou lenços sem cabelo porque associo sempre a cancro. Em casa, uso gorros porque é confortável, mas não gosto da imagem.
Amanhã, preparo-me para sair pela primeira vez sem nada na cabeça. Vou usar uma camisola com capuz, caso sinta frio ao sair do carro e assim protejo-me. Vai ser um teste a mim própria e nada melhor do que ir à quimioterapia assim. Lá não me devem achar uma alien.
16.2.25
É só cabelo?
Não sabia qual seria o momento certo para cortar o cabelo, mas entretanto percebi. Ficou claro para mim quando estava a ser difícil controlar a queda de cabelo. Na terça-feira, dia 11, sem quaisquer receios, pedi ao Filipe que me rapasse o cabelo. A Maria Victória quis ver, a minha mãe não teve coragem.
Montei o tripé e pus o meu telemóvel a filmar. A miúda estava muito apreensiva e o Filipe perguntava se estava pronta. Estava, claro. Preparei-me para este momento há mais de 2 meses, quando suspeitei do pior. Prendi o cabelo em 2 partes e cortámos isso primeiro. E depois foi tudo de seguida.
Sentir a superfície da minha cabeça sem cabelo foi uma sensação agradável. Mesmo. O pior foi mesmo quando senti a necessidade de ver o que estava a acontecer e pedi o telemóvel à MV. Fui surpreendida pela nova imagem e a emoção tomou conta de mim e permiti-me chorar. E vou permitir-me sempre que sentir essa necessidade.
Preferia ter cabelo, mas não desgosto da minha imagem sem cabelo. Destaca muito os meus traços, as minhas imperfeições, o tempo que já passou por mim. O cabelo ajuda a distrair e a ornamentar. Dá uma moldura ao rosto e agora já não a tenho.
Entretanto, ainda vou perder outras molduras: as sobrancelhas e as pestanas. E ainda assim continuarei a ser eu. Sou sempre eu.
Depois de cortar o cabelo, fui tomar banho. A sensação da água na cabeça é completamente diferente. É agradável, acreditem. O meu banho agora está reduzido a uns breves 5 minutos. Quem tem o cabelo tão comprido como eu tinha saberá que a rotina de um cabelo bonito demora o seu tempo. Acabou-se o champô, o amaciador, a máscara, o serum, o óleo, spray disto e daquilo. Tudo suspenso, para já, embora já me tenham dito que tenho que continuar a usar champô e amaciador.
Arrependo-me de ter feito um corte de cabelo antes de ter começado a quimioterapia. Fiz uma franja para se aproximar mais das perucas que tinha pensado usar e cortei ao comprimento para me ir habituando. Não existe essa coisa do hábito. Não me habituei à franja e acho que essa falta de identificação até ajudou a que me quisesse livrar do cabelo definitivamente.
No dia seguinte, tive que sair para fazer fisioterapia e ir buscar a MV ao colégio. Não me apetecia lidar com os olhares de pena ou de surpresa. Coloquei uma peruca. E no dia seguinte fiz o mesmo.
Ao longo destas semanas, tratei de comprar várias perucas. Não são iguais ao meu cabelo. Acho que as perucas de cabelo natural são caríssimas. Consigo imaginar várias outras coisas que me trariam mais felicidade do gastar milhares de euros numa peruca que vou usar durante uns meses. Resolvi então comprar perucas sintéticas e brincar um pouco com a minha imagem. Se acho confortável? Não, não acho. Nota-se à distância que é cabelo falso e custa-me um bocado porque eu sou super a favor da naturalidade. Eu só pintava o cabelo, mas não gostava de usar pestanas falsas, nem mesmo muita maquilhagem ou filtros. Provavelmente, agora vou ter que me socorrer disso tudo.
Em casa, procuro não usar nada. É como me sinto melhor, mas a simples movimentação de ar quando me desloco arrefece-me. Uso gorros, mas não gosto do que vejo. Continuo a preferir estar ao natural.
13.2.25
Quimio 4/12
Esta está a ser uma semana bem desafiante, mas nem por isso difícil. Ao longo do fim de semana, comecei a sentir uma queda mais acentuada no cabelo. Nada que influenciasse o volume de cabelo mas entretanto começou a ser difícil de gerir a queda. Ao mínimo toque caíam muitos cabelos. Não é agradável.
9.2.25
Fisioterapia
4.2.25
Quimio 3/12
O Dia Mundial do Cancro, a 4 de fevereiro, era para mim apenas mais um dia de sensibilização para a doença oncológica.
Agora que eu também faço parte das estatísticas, viver este dia tem um significado muito diferente.
Só ainda passaram 2 meses desde o meu diagnóstico, mas a minha experiência tem sido muito positiva, até agora. Até porque hoje faço o meu 3.º tratamento de quimioterapia e que sortuda sou por ter a possibilidade de o fazer.
Ainda há um longo caminho a percorrer e espero que nunca me falte o ânimo e a coragem.
Sou muito grata pelos os profissionais de saúde que me acompanham, pelos avanços científicos e pelas pessoas do meu coração que me dão as mãos e não me deixam passar por isto sozinha. Tenho mesmo muita sorte!
O apelo que deixo a todos é que vigiem a vossa saúde. Mesmo! Um diagnóstico precoce faz toda a diferença.