São várias as vezes que a minha filha me ouve dizer que me quero reformar. Já ando a dizer isto desde os 20 e tal anos, quando comecei a dar aulas e a trabalhar pela primeira vez.
Gosto de trabalhar, da independência que proporciona, mas também me deixo engolir pelo zelo algo desmesurado. Hoje em dia, já não estou no ensino mas a minha cabeça anda muito cansada, quase esgotada. Não só pelo trabalho, mas também pelas rotinas do dia-a-dia. É nesses dias piores que ela me ouve reclamar, que estou farta do trabalho, que me quero reformar. E eu, que ainda tenho mais de 20 anos para reclamar, acho que lhe estou a dar a ideia de que o trabalho é opcional. E por que digo isto?
Hoje ela dizia-me (diz-me isto muitas vezes) que queria ser adulta, como eu. Expliquei-lhe que a fase mais bonita e também a mais curta é a infância, que não tenha pressa de crescer. Que ser adulto é mais chato, temos mais responsabilidades e temos que trabalhar.
Respondeu-me que quer ser desempregada. DESEMPREGADA. E diz-me isto a sorrir, como se me quisesse descansar.
Minha filha, espero que sejas desempregada por opção e nunca por falta de alternativas. Espero que nunca tenhas que te sentir miseravelmente infeliz num emprego ou trabalho apenas porque precisas de dinheiro para viver. Espero que sejas tão feliz a trabalhar que sintas que não o estás a fazer.
Tenho que mudar o discurso cá por casa. Apesar de ter achado imensa graça ao “desempregada”, apesar de estar sempre a dizer que quero ser “reformada”, sinto que tenho que ter mais atenção à mensagem que passo com as piadas que faço.
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