19.5.22

Ela tinha acabado de meter o último copo na máquina de lavar loiça quando percebeu que ainda teria que ir à rua levar o lixo. Já sentia o cansaço nos olhos e nos ombros, mas ainda foi passar o pano húmido sobre a placa do fogão. Ninguém lhe valorizava o esforço, mas ela gostava de ver tudo limpinho quando chegava novamente à cozinha de manhã para o pequeno-almoço.

Vestiu o casaco de lã e foi ao lixo. Não podia deixar o lixo em casa porque o raio do gato desfazia tudo à procura de restos de comida. Tanto fazia comer bem como não. Tinha nele o instinto de procurar alimento. Por isso, por mais cansada que estivesse, não podia mesmo deixar o lixo em casa ou estaria tudo espalhado pelo chão no dia seguinte. 


Entanto descia as escadas, reparou que no prédio da frente o marido estava aos comandos da cozinha. “Que sorte!” Pensou ela. Depois, corrigiu-se mentalmente. Lembrou-se das palavras da Ana que também tinha um marido que cozinhava. Não admitia que ninguém lhe dissesse que tinha sorte. Ele cozinhava e ela fazia outras coisas. Ok, não é sorte. Então, é o quê? Quem não tem isso pode dizer que tem azar? 

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