Ou copianços, como se diz por estas bandas.
Provavelmente, até nem devia dedicar um post a esta arte, mas no outro dia lembrei-me disto e aqui vai uma reflexão.
Nunca precisei muito de levar lembretes para os testes, mas claro que o fiz. Aquele desafio de tentar fazer algo e não ser apanhado dava uma adrenalina inexplicável. No liceu, havia umas carteiras em madeira maciça, escuras. Nas aulas anteriores ao teste, deixava lá inscrita uma data, uma definição, uma ajudinha.
Na faculdade, no entanto, foi onde me tornei mestre do copianço. Como tínhamos folhas de rascunho para preparar as nossas respostas, coleccionávamos essas tais folhas de frequências anteriores e levávamo-las escondidas já preenchidas. Na hora H, era só tirar a folha debaixo da camisola e começar a transcrição. Não fiz isto muitas vezes, mas fiz algumas. E só conseguia fazê-lo desta forma. Ficava era aflita quando as folhas de rascunho do teste eram de cor diferente das que eu levava escondidas.
Nós, que somos contra a corrupção, o roubo, as burlas, praticamos, quase sem culpa, estes delitos que consideramos menores. Será que são menores? Será que, por serem mais comuns, são mais desculpáveis?
Recordo também o que uma professora nos contou. Ela dava aulas a professores que já tinham mais de 20 anos de experiência e que estavam a atualizar a sua formação para ficarem com uma licenciatura. A minha professora tinha menos de 30 anos e eles à volta 50. Copiavam descaradamente e ela não tinha coragem de os repreender. Via mas sentia aquela vergonha alheia...
Faz lembrar aqueles senhores doutores que foram apanhados a copiar na prova de acesso à magistratura. Juizes de confiança, não?
Também já fui cúmplice activa na arte de cabular. As minhas colegas que tinham a disciplina de Inglês em atraso (apesar de estarmos numa licenciatura de Inglês 🙄) pediram-me ajuda para fazer as produções de texto. Sempre gostei de escrever e tinha opinião sobre tudo. O combinado era eu ficar no bar à espera que me enviassem por mensagem o tema da composição e o número de palavras. Depois, tinha que produzir 3 ou 4 textos para cada um delas. Era profissional. Fazia textos diferentes, com opiniões diferentes e estilos diferentes.
Fui sempre tão generosa com os colegas e no último exame do curso uma dessas amigas recusou-se a ajudar-me numa resposta. Tinha tido muitas frequências seguidas e não tinha tido muito tempo para estudar para aquela. Li tudo uma vez e preparei as cábulas que não consegui usar. Não sei se foi Karma, mas não só eu tive alta nota, como ela chumbou à cadeira e não conseguiu ir fazer o estágio nesse ano.
Enquanto professora sempre disse aos meus alunos, adolescentes e com a mania que sabem tudo, que podiam copiar à vontade. Desde que eu não os apanhasse. Se queriam copiar, tinham que se esmerar na tarefa.
Sempre achei que preparar cábulas aguça a nossa capacidade de síntese e ajuda ao estudo. Por esse motivo, consegui tirar boa nota naquele exame onde nem sequer tive oportunidade de copiar. Acho que as cábulas conseguem ser de certa forma um método de estudo alternativo.
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