2.3.20

Fazer o trabalho parecer fácil

Se há coisa que as mães fazem bem é fazer o seu difícil trabalho parecer fácil. Nem sequer falo de mim, apesar de me estar a tornar cada vez mais MÃE, em todas as suas vertentes. As mães não são apenas cuidadoras e máquinas de multiplicar amor pelos seus filhos. As mães administram toda uma casa, gerem emoções, frustrações, ensinam, limpam, cozinham, tratam... O mais notável nem é serem mestres do multitasking. O que mais impressiona é acumularem funções e deixarem parecer que não lhes custa nada. 
Eu tenho uma dessas mães. Agora está reformada, mas enquanto foi professora nunca descurou o seu papel de CEO doméstica, excelente mãe e excelente professora. E só agora me apercebo do esforço que parecia não existir, mas devia ser tão grande... Eu também tenho um trabalho a tempo inteiro e também  tenho também um trabalho em casa que ninguém vê quando é bem feito. Porque quando é mal feito, aí toda a gente repara.


1.3.20

Ipsis Verbis

Hoje, enquanto íamos de carro até ao restaurante, passámos por uma casa lindíssima que estava à venda. Como a minha mãe a conhecia, perguntei se sabia o preço. A Maria Victória responde, muito assertivamente, “É muito cara, mamã, muito cara. Já viste aqueles números todos?” (Eram 2 números de telefone”)

28.2.20

Os pais e a escola

No meio dos meus privilégios, que reconheço e agradeço todos os dias, penso nas mães que não têm a sorte de ter a escola ao lado de casa ou de terem horários flexíveis. Essas mães que se exercitam muito mais do que eu só para colocarem os filhos na escola, ainda levam com a culpa de terem que os despejar lá até horas tardias. É triste, é, mas é a realidade de muita gente. E era bom que nos puséssemos no lugar do outro antes de criticarmos.

Este Carnaval, no desfile das escolas, vi muitas crianças com disfarces comprados - não há mal nenhum, mas denota pouco interesse da escola. Coitados daqueles miúdos cujos pais não podem comprar disfarces. Ou pior, coitados daqueles pais que tiveram de comprar disfarces, mesmo não tenho dinheiro. A escola, que deveria promover a igualdade de oportunidades, não deveria fomentar este tipo de competição entre os miúdos. A escola, já que participa de uma actividade desta monta, deveria trabalhar nos fatos juntamente com as crianças. Vi escolas com fatos simples, mas que causaram grande impacto e ficaram lindos. E vi outras escolas em que tiveram que ser os pais a fazer os disfarces. Provavelmente, à noite, quando já estão exaustos depois de um dia de trabalho. Verdadeiramente admirável! 

Esta conversa toda para criticar um pouco as escolas que impõem aos pais que participem nas actividades escolares. E, quando não conseguem, fica a crítica e consequentemente a culpa. Os meus pais nunca participaram em nenhuma actividade escolar minha. A minha mãe não ia faltar às aulas dela para me ir ver fazer isto ou aquilo. Nunca levei “trabalhos manuais” para fazer em casa. Eu acho que nunca os pais estiveram tão ocupados como hoje em dia, nem nunca estiveram tão envolvidos na escola como hoje em dia. Sim, é bom percebermos que podemos entregar os nossos filhos a uma instituição e que eles cuidam deles lá. No final do dia, são nossos de novo. Nem quero imaginar a culpa que alguns pais carregam quando na escola os repreendem porque não foram ao desfile ou à reunião para debater a cor do cartaz da primavera. As pessoas não se conseguem multiplicar. Exige-se, hoje, que os pais estejam em todo o lado e sejam bem sucedidos em todas as frentes. Lamento informar, mas não conseguimos. E, se virem alguém assim, provavelmente está a falhar nalguma área e a disfarçar bem. Na escola há representantes de pais. Usem-nos para se fazerem representar. 

Esta elasticidade que já achamos natural nos pais, mas sobretudo nas mães, está a deixar-nos esgotadas. Eu, com todas as regalias que tenho, estou exausta. A minha filha sai às 4, mas às vezes apetecia-me que ela ficasse na escola mais tempo para eu poder trabalhar mais um pouco ou até não fazer nada. Que bem que me sabe quando ela vai brincar um bocadinho para casa dos vizinhos. E, porque valorizo esses momentos, também eles vêm para a minha casa para aliviarem um pouco os pais.

Pais, mães, professores, educadores, família e amigos, sejamos todos mais solidários e menos críticos. Ganhamos todos com isso. 


26.2.20

O novo coronavírus em 17 ilustrações

Como se dissemina o vírus e cinco precauções que todos devemos seguir para evitar a infecção explicadas nas ilustrações.










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18.2.20

Falar sobre a morte (de um animal) com crianças

A perda de alguém que amamos é sempre tão difícil, seja humano ou não. Já perdi algumas lindas almas, mas nunca tinha tido uma criança ao meu lado a quem explicar essa perda. Parece muito assustador, mas é mais fácil do que parece. As crianças não são parvas , têm grande empatia e percebem as coisas para além do óbvio.
Há umas semanas falava com uma amiga que me contava que ainda não tinham contado à filha que a cadela de casa tinha morrido. Já passou mais de meio ano. E eu dizia-lhe que a Maria Victória estava a acompanhar todo o processo de doença da nossa gatinha e que já a começava a preparar para o inevitável.
Se, no início, quando a gatinha veio para casa após a cirurgia, a miúda ficou cheia de ciúmes pela atenção que dava à gata, logo, logo começou também a cuidá-la, acompanhava-me sempre ao veterinário e conseguia com que eu desdramatizasse toda a situação. As crianças têm aquela capacidade maravilhosa de viver o momento. Quando o momento é dramático, elas vivem-no desse modo, mas logo passa e focam-se noutra coisa.
A Maria Victória queria ir comigo quando levei a gatinha pela última vez ao veterinário. Não a levei, claro, mas ela queria ir e disse que nunca tinha visto ninguém morrer. Até conseguiu ter um momento de humor mórbido. Quando vim para casa, senti a necessidade de ficar sozinha, de chorar abertamente, sem contenções. A minha filha percebeu o meu momento e continua a perceber quando me apanha a chorar.
Com isto, quero dizer que não concordo com mentiras, acho que a verdade pode até ser adaptada à idade da criança, mas manter sempre a verdade. E custa-me quando a deixo sem resposta porque agora também faz imensas perguntas filosóficas. Quanto à nossa gatinha, continuamos a falar dela sempre que queremos e sempre que precisamos.


13.2.20

Livro: Voando Sobre a Vida de Miguel Mota Carmo

Li este livro em menos de 24 horas. A minha mãe comprou-o, colocou-o em cima da mesa e eu comecei de imediato a lê-lo. As primeiras páginas são muito gráficas e impressionantes e é impossível não querer saber mais.
Miguel Mota Carmo é um médico e doente oncológico que passou por várias situações de perigo de vida e 6 meses de internamento. Passou por períodos em que dependia integralmente de enfermeiros, assistentes, fisioterapeutas... Claro que notamos alguns privilégios no relato desta experiência pelo facto do paciente ser médico e muito bem relacionado. O problema é que a saúde, ou a falta dela, é muito democrática e, às vezes, nem a melhor cunha do mundo faz milagres.
Li várias coisas fantásticas neste livro. Uma delas foi a perda daquela arrogância que alguns médicos têm e o respeito e admiração que ganhou a todos quantos lidam com os doentes. A outra tem a ver com o lado espiritual e as medicinas alternativas. A desesperança foi tratada com sucesso por uma médium e um problema num pé (por estar imobilizado durante muito tempo) foi tratado também com sucesso pela acupuntura.
Os termos médicos ao longo do livro são prontamente traduzidos para a linguagem leiga e conseguimos perceber que ninguém controla quase nada nesta vida, que a vulnerabilidade nos transforma e nos faz ver para além do óbvio.