8.5.20

Perder um filho...

Quando uma criança morre, é muito difícil de manter a fé em Deus. Por que é que Ele permite que crianças sofram? Que sofram por tanto tempo para, no fim, lhes ceifar a vida? Não há muito mais a dizer. Os pais vai ficar para sempre amputados e não há palavras que os possam confortar. Eu, pelo menos, não as tenho. 


5.5.20

Procurar emprego

Durante mais de 10 anos, recebi milhares de CVs. Sim, devem ter sido uns milhares. Contratei centenas de pessoas. Fiz tantas, mas tantas entrevistas de emprego. Deixei pessoas à espera de resposta, outras vezes a resposta era negativa. Contratei algumas pessoas menos competentes porque havia falta de pessoal e precisava de alguém com urgência. Noutras alturas, os candidatos eram todos tão bons que deixei pessoas brilhantes de fora. Confesso que apaguei alguns CVs por serem ficheiros demasiado pesados - entupiam-me a caixa de correio. Garanto que não era insensível. Procurei sempre ver para além das competências profissionais de cada candidato. A mãe solteira, o moço que cuidava sozinho da mãe, o miúdo que queria pagar os estudos, a reformada que queria sentir-se produtiva... Tantas, mas tantas pessoas mereciam uma oportunidade, mas não consegui ajudá-los a todos. 
Hoje, eu estou no lugar de cada uma dessas pessoas. Voltei a preparar o meu CV. A última versão era de 2008. Não sei se esse documento consegue falar por mim. Acho que provavelmente não me contrataria. Penso sempre que as pessoas não acham que eu preciso de nada. E preciso! Preciso de trabalhar! Não sei não trabalhar! Estar em casa e cuidar de todos nós não me chega. 
Esta deve ser a pior altura de sempre para procurar emprego. Uma das empresas para onde concorri respondeu-me que recebem cerca de 10 mil candidaturas diárias. 10 mil! Como é que uma pessoa se destaca? Eu moro em Trás-os-Montes. Todos querem vir para cá em quarentena, mas aqui não há empregos. Aposto nos trabalhos à distância, a partir de cada, mais uma vez. 
Estou cansada de preencher formulários com a minha formação académica e profissional. Começo a impacientar-me e omito informação. Mas não desisto. LinkedIn, sites de emprego, portugueses e estrangeiros, nada me passa ao lado. E nada aparece. Estou cansada, mas estou determinada. 

4.5.20

A mãe perfeita

Será que a mãe perfeita existe? Eu conheço algumas e reparei que têm algumas características em comum. Será que também és uma mãe perfeita?

A mãe perfeita é bem sucedida.

A mãe perfeita não descura a profissão. Quando está a trabalhar, não pensa em mais nada.

A mãe perfeita estabelece prioridades e não perde tempo com o que não interessa, tipo redes sociais.

A mãe perfeita é bonita, vaidosa e apresenta-se sempre bem.

A mãe perfeita é simpática. Ela sabe que um sorriso abre sempre portas.

A mãe perfeita é bem casada. Ela escolheu um marido e pai que apoia a sua carreira e partilha as tarefas. 

A mãe perfeita pede ajuda e delega. Ela sabe que não consegue fazer tudo sozinha e não tem problemas em admitir isso. 

A mãe perfeita não esconde as dificuldades que enfrenta, mas desvaloriza-as. 

A mãe perfeita não se queixa. 

A mãe perfeita tem inteligência emocional. 

A mãe perfeita cultiva as amizades. Ela sabe como o tempo com as amigas lhe faz bem.

A mãe perfeita bebe uns canecos. Enquanto o marido presta atenção aos miúdos, ela pode descontrair um pouco. 

A mãe perfeita também mente. Nem tudo é perfeito. A mãe perfeita tem é outra atitude perante as dificuldades diárias.

A mãe quer ser perfeita, mas o que o filho precisa é de uma mãe feliz. 


Foto: Instagram

3.5.20

Dia da Mãe

Cada vez mais estes dias me passam ao lado. Os tais dias das minorias que foram criados para lembrar que elas existem e para fazer a economia circular. Ora, as mães não são minorias. Todos somos filhos de uma mãe. E, como elas estão sempre lá, quase nunca são celebradas. A minha mãe sempre me foi muito preciosa, mas é-o cada vez mais. E mais ainda desde que fui mãe. Precisávamos de lembretes sobre a importância das mães todos os dias. Não é que não o saibamos, mas essa celebração da mãe precisa de ser feita mas regularmente. As mães, as mulheres são bichos incríveis. Não é à toa que quase todas partilham os adjectivos guerreira, lutadora, carinhosa, resiliente, incansável... E só são assim porque sabem amar como mais ninguém.
Oriento mais este post para a minha mãe do que para mim, enquanto mãe, porque já estou a acusar um cansaço enorme com toda esta crise. A minha filha está a adorar estar em casa e, por conseguinte, há sempre muita energia, muita bonecada espalhada pela casa, muita desarrumação... Quanto mais feliz ela anda, mais esgotada eu me torno e fico difícil de aturar. Não sou a mãe perfeita. Não consigo vestir esse papel, não o quero, nem a humildade mo permite, e não é falsa. Até porque basta comparar-me com a minha mãe e fico logo a perder. Mas tenho uma filha feliz, saudável e que me ama. Só por isso não devo estar a fazer tudo errado. ❤️

30.4.20

O Dia do Trabalhador

Amanhã é o Dia do Trabalhador e vou celebrá-lo como desempregada. No dia 1 de Abril, fui chamada para uma conversa no Skype e em 30 segundos o assunto ficou despachado. “A pandemia de Covid-19 afectou imenso a nossa empresa e tivemos que tomar decisões difíceis para todos... blá, blá, blá... e, infelizmente, também te afectou e temos que te mandar embora.” 

A camisola que vesti durante 13 anos foi-me arrancada de forma fria e cruel. Compreendo que não tivessem trabalho para mim, mas não precisavam de me dispensar já. Já estava há 15 dias sem trabalho, ou seja, sem receber nada. Fui freelancer durante 13 anos e, como tal, se não trabalhasse não recebia. Recordo imensas situações de dedicação extrema. Atender chamadas de trabalho durante a minha lua de mel, trabalhar em situações inacreditáveis, trabalhar em pleno trabalho de parto, tirar apenas 1 mês de licença de maternidade, passar horas e horas diárias sentada a um computador para cumprir prazos, chamadas de conferência às 5 da manhã ou à meia-noite... Tudo isso foi feito porque eu quis, claro, tamanha era a minha fidelidade. 

Não quero entrar num discurso amargo e ressabiado. Ganhei muito nesta empresa. Ganhei experiência profissional, ganhei dinheiro, ganhei amizades verdadeiras e sei que ajudei muita gente. Também ganhei a certeza de que o mundo dos negócios é tramado. Há quem se venda por muito pouco e quem não hesite em espetar-te uma faca nas costas, quando menos esperas.

Estar sem emprego numa altura como esta é duplamente desafiante. Já não bastava ter 41 anos, ter um CV com data de 2008, viver em Trás-os-Montes e ter experiência profissional em Controlo de Qualidade e CX que aqui de nada me valem. Tinha que vir uma pandemia que me impede de procurar um trabalho em condições. É a cereja no topo do bolo. 

Apesar de tudo, não sou pessoa de deitar a toalha ao chão. Neste mês de desemprego, já desbravei muito caminho e não vou desistir. Sou uma pessoa positiva e sei que tudo há-de correr bem. 

23.4.20

O meu gato está deprimido



Não sei se já contei a história mas, se contei, cá vai outra vez.
A gata dos tios do meu marido ia ter bebés e já tínhamos “encomendado” um gato claro de olhos azuis. Aquela gatinha e a sua filha costumavam ter gatos lindíssimos. E assim foi. Mãe e filha tiveram ninhadas ao mesmo tempo e amamentavam em conjunto os gatos. Tudo ao molho. Todos bichanos lindos. Entretanto fomos buscar o meu Joaquim, que já estava reservado. Das duas ninhadas numerosas, já só la ficaram 3 gatinhos e apenas 1 sem dono. E estava sem dono porque era a mais feia. Naquele bocadinho de tempo que estivemos lá para recolher o Joaquim, ele criou uma ligação especial com o  patinho feio. Não conseguimos deixá-lo lá, sem saber que destino teria, e trouxemos os dois. A Tonicha e o Joaquim viveram juntos durante quase 10 anos. Até que a morte os separou. Se para mim foi tão doloroso perder a minha querida gatinha, estou a descobrir que também o está a ser para o seu irmão. A convivência nem sempre foi amigável - tal e qual a dos irmãos. O Joaquim está triste, provavelmente deprimido, com a falta da irmã. Perdeu imenso peso, está carente, não me larga... Come bem, está desparasitado, gosta de ir dar a sua voltinha ao jardim mas, quando está em casa, fica triste, triste. 
Acham que devia arranjar-lhe uma companhia? Não um gato bebé porque estão em fases diferentes da vida e não quero perturbar mais o Joaquim. Estava a pensar em adoptar uma gatinha adulta, calma, com quem ele pudesse partilhar as sonecas e ronrons...