20.8.19

Não

As pessoas não gostam que lhes digamos que não. Sobretudo se passámos muito tempo a dizer-lhes que sim.

Ela eclipsou-se da sua vida porque não lhe deu umas calças. Sim, tinha-lhe prometido umas calças e depois não lhas pôde dar. Pecado capital. Não a perdoou e nunca mais lhe falou. Durante tanto tempo deu-lhe tanto, tantas coisas, atenção, amizade e tempo e quando lhe negou a merda de umas calças ficou tão ofendida...Também recebeu, é certo, mas nunca na mesma proporção. Nem ela estava a medir o que dava e o que recebia e só se apercebeu da desproporção quando um dia, finalmente, disse que não. Sentiu-lhe a falta (ainda a sente) porque gostava dela. Todos aqueles sins não serviram de nada, mas bastou um não para a conhecer a sério. 

E enquanto aprendeu a dizer não, aprendeu mais um pouco sobre si também. Aprendeu que as pessoas não gostam de nós como somos. As pessoas gostam de nós como elas querem que sejamos. Resumindo: nunca gostaram. https://drive.google.com/uc?export=view&id=1jHtyKGHN2-v3AsRsYvD6HrO9I7bSfSHt

17.8.19

Uma mãe

Ela apressa-se a acabar de passar as camisas dele. Ainda tem a sopa para fazer e o jantar para preparar. Está cansada porque de noite o miúdo não dormiu com a febre e as dores de uma otite. De manhã, lá foi trabalhar como de costume e deixou-o aos cuidados da avó. Queria deitar-se 5 minutos, mas não pode mesmo perder tempo. Quando ele chegar a casa, vai querer ter o jantar pronto, caso contrário vai enchê-la de preguiçosa. Chegou e já começou a reclamar do cheiro a comida em casa. O exaustor estava ligado, mas fica sempre algum cheiro. Apressou-se a pedir desculpa, mas nem assim ele ficou mais bem disposto. O miúdo lá continua a brincar sozinho, o pai só lhe deu um beijo e logo se foi refastelar no sofá. Enquanto ela põe a mesa e termina o jantar, ele vai ao Facebook ver as novidades. Like aqui, like ali, ela ouve o som e nada diz. Vão para a mesa, mas o miúdo não quer comer, talvez efeitos da otite. A culpa é da mãe, claro, que não o sabe educar e já fica irritado o jantar todo. Sai da mesa e vai de novo para o sofá. Mais uma vez, ela apressa-se a arrumar tudo para ainda dar banho ao miúdo e metê-lo na cama. Se ao menos tivesse ajuda... Ele, no sofá, ri-se de alguma publicação qualquer e continua a fazer likes. São 9 da noite e ela finalmente deita-se com miúdo. Está tão cansada... Quando ele adormece, vai para a sua cama e, para descomprimir, vai até às suas redes sociais. É lá que vê os likes dele nas fotos de miúdas que ela não conhece, os comentários bem-dispostos e os planos com os amigos para o fim-de-semana. https://drive.google.com/uc?export=view&id=1GWHe21HKuGJouaiyDEnwz3M8PMM7pRAZ

28.5.19

Pesadelo

Esta noite a minha filha não queria ir dormir.
Ontem apareceu-nos na cama por volta das 4:30 da manhã. Disse-me que tinha tido um pesadelo e não conseguia dormir. Levei-a para a cama dela e dormi lá com ela porque o meu marido acorda muito cedo e não iria dormir confortavelmente com ela lá.
De manhã, voltou a falar no pesadelo. Pedi-lhe várias vezes que me contasse o que sonhou e recusou sempre. Expliquei que era apenas um sonho, mas ela disse que eu não iria querer saber. Até fiquei com receio...  Quando veio almoçar, disse que não tinha parado de pensar no pesadelo e voltou a esquivar-se. Só quando saiu da escola à tarde, e com mais tempo, lá me contou o que tinha sonhado.
A nossa gatinha,  a Tonicha, tinha comido a cauda da Barbie Sereia e tinha morrido. E o nosso gatinho, o Joaquim, viu a sua companheira morrer.
A miúda andou aflita o dia todo, não me queria contar para me poupar o sofrimento e não queria dormir para que o pesadelo não a visitasse de novo. Tentei que não ficasse muito angustiada e já dorme, mas eu também fico assim perturbada com os sonhos/pesadelos. Às vezes são tão vívidos que parece que ficam gravados na memória, como se de uma verdadeira experiência se tratasse.
Espero que hoje durma melhor e que sonhe com unicórnios a brincar num prado verdejante.


27.5.19

Favoritos | Champô seco

Tenho o cabelo muito comprido, seco nas pontas e oleoso na raiz. Ora, quem tem o cabelo como o meu certamente saberá que, quando as pontas estão mais brilhantes e sedosas, já a raiz está toda lambida e com um aspecto nojento.
Não prescindo do champô seco para tirar um pouco da oleosidade e dar um ar mais limpo ao cabelo. Não acho que substitua a lavagem do cabelo, porque se o cabelo estiver mesmo muito oleoso pode até ficar muito pastoso e também não queremos isto. Acho ideal para ter na mala e aplicar ao fim do dia ou entre lavagens...
A aplicação é muito simples. Aplicar o spray no cabelo, aguardar uns minutos e passar a escova. E, já está! Eu uso esta marca no momento, mas já usei outras e funcionam bem na mesma.


24.5.19

The act

Série excelente! Tão boa que até tinha receio da hora de a ver.
Aqui conta-se a história de uma mãe que dizia que a sua filha tinha leucemia, asma, distrofia muscular, idade mental de 7 anos, forçava-a a usar um tubo de alimentação e a mover-se em cadeira de rodas, entre outras coisas... era tudo mentira. Um caso clássico de síndrome de Munchausen que teve como desfecho o assassinato da mãe pela filha e pelo namorado desta (que conheceu online).
Não pensem que estou a contar-vos o final. A história é bastante conhecida e o crime aconteceu há apenas 4 anos, no entanto, ver a representação do que provavelmente se passou (apesar de também ser um pouco ficcionado) é estranho. Daí eu dizer que era sinistra a hora de ver a série. Queria ver, mas ver deixava-me mal disposta. Como é que uma mãe que gosta da sua filha lhe pode infligir tanto sofrimento desnecessário?
É uma série de apenas 8 episódios e com uma interpretação absolutamente espectacular da Patricia Arquette e da Joey King. Transformação física impressionante e representação notável.  Também gostei de matar saudades da Chloé Sévigny. Não deixem de ver!
Há também o documentário da HBO, Mommy Dead and Dearest, que vale a pena ver também.






21.5.19

O primeiro antibiótico

Com a necessidade crescente de colocar os filhos em infantários e creches cada vez mais cedo, muitos pais já estão, infelizmente, habituados a ter os filhos doentes. Não foi o nosso caso, graças a Deus. Nem gosto de falar muito nisto porque tenho medo que algo aconteça, mas a minha filha tem sido muito saudável. Tomar o primeiro antibiótico aos 5 anos é, nos dias de hoje, coisa rara. Em bebé só teve as viroses comuns, não teve problemas com dentes, não teve más reações a vacinas. O que tinha era fácil e brevemente resolvido com Ben-U-ron. Mas sempre tive consciência do quão abençoados somos. Isto é que é a verdadeira riqueza e privilégio: ter filhos saudáveis. 
Esta última madrugada disse-me que lhe doía o ouvido por dentro. A minha mãe que me viu ter várias otites em pequena, sempre me pedia para ver se lhe doíam os ouvidos. Aliás, eu lembro-me de algumas otites e do que doíam. À 1 da manhã, dei-lhe Nurofen para ver se aliviava. Aliviou mas não passou. Apliquei calor na zona. Não dormimos nada. Às 7, repeti a dose. E às 13. Aqui já tinha febre e não havia dúvidas de que era para visitar o pediatra. Eu não sou de entrar logo em pânico. Já percebi que os médicos também gostam de aguardar para poderem fazer um diagnóstico mais preciso e eu resolvi aguardar, controlando a dor e a febre. Claro que já não foi possível esperar as 8 horas de intervalo e foi mais cedo mesmo. Não aguentava vê-la em sofrimento.
Quando foi à pediatra já estava novamente com febre. Confirmou-se a otite, tomou mais Ben-U-ron e veio para casa com o primeiro antibiótico da sua vida. Não está habituada a tomar remédios e eu não estou habituada a dar-lhos. Não gosta dos sabores. E estas são as nossas preocupações. E há pais que...  nem quero pensar nisso. As crianças não deviam sofrer e os seus pais não deviam vê-los sofrer.
Enquanto aguardávamos pela pediatra, com dores e febre, mas sempre bem-disposta.