4.3.25

Quimio 7/12

Ontem fiz quimio. Excepcionalmente não foi à terça, por ser Carnaval, por isso fui lá ontem. Estava uma autêntica feira porque devem ter passado tudo o que era de terça-feira para segunda e quarta. Esperei mais do que o habitual para ser chamada para as análises. Fui colher as análises na sala dos tratamentos e foi o enfermeiro que habitualmente está comigo que me recebeu. Pela primeira vez, colheram-me o sangue para análise através do CTI. Fizeram a preparação habitual e aplicaram-me o cateter externo de onde retiraram o sangue. Depois, fiquei já com o cateter colocado para fazer a quimio à tarde e poupei mais um furo no braço. 


Quando cheguei, fui a um gabinete onde estavam 2 médicas jovens. Falamos das análises, estava todo ok, segui para o tratamento. 

Gosto muito mais de estar na sala das camas. É mais confortável, consigo dormir e até baixam a intensidade das luzes. Habitualmente, os outros pacientes preferem os cadeirões porque acham que as camas lhes fazem lembrar que estão doentes. 

Logo depois de me injetarem o anti-histamínico, adormeci. Levei a mantinha e que bem que soube o soninho… Pouco depois de acordar, chegou a minha médica com um interno. Eu tinha uma lista de questões nas minhas notas. Tenho a sensação de que os médicos não gostam de ser questionado e remetem logo para segundas opiniões. Eu só pedi orientações a nível de suplementação segura, mas deixaram ao meu critério. 

Pausa estratégica para ir à casa de banho. Aqueles soros todos dão uma vontade louca de fazer xixi. Vou sempre acompanhada do material.  


Entretanto, a medicação correu toda, limparam o cateter com soro, colocaram um penso no local que picaram e saí. 

Ir à quimio tem sido um processo muito tranquilo. Já sei que saio de lá meio abananada e que nos dias seguintes me sinto mais cansada.

Esta noite não dormi bem. Acordei muito cedo, não voltei a adormecer. De manhã treinei e arranjei-me. Não dormi sesta porque tive consulta online com o psicólogo. Vou ver se consigo dormir cedo e recuperar algum descanso.

3.3.25

Amigas

Ontem foi sábado e as minhas amigas convocaram-me para um lanche. Só uma não pôde ir e eu também não me recusei a ir. Estava um belo dia de sol, embora muito frio. 

Agasalhei-me e levei a Blondie. Estava muito frio para sair de cabeça descoberta. Passámos a tarde numa esplanada no centro da cidade. 


Já sentia falta de estar com as meninas, embora falemos com muita regularidade. É bom ouvir os problemas dos outros, para variar. Aliás, é importante que os nossos amigos percebam que os problemas deles continuam a ser importantes e que juntos possamos resolvê-los. E é importante rir e eu rio muito com as minhas meninas.

Enquanto estava com elas, recebi uma chamada de uma pessoa muito especial para mim. Ela é a minha amiga mais antiga porque a conheço desde que nasci. Foi a minha madrinha de casamento. Falamos muito pouco agora, e ela nem sequer está assim tão longe, mas simplesmente as nossas vidas foram seguindo rumos diferentes. O amor entre nós não muda, falemos muito ou pouco. 

Regresso à mesa das amigas e o telefone toca de novo. Recebo uma chamada de S. Tomé e Príncipe. Outra amiga especial, com quem partilhei um estágio como professora. Já não falávamos há imensos anos, mas fiquei mesmo feliz por ela me ter procurado. Ainda bem que tenho o mesmo número de telefone desde 97. Sim, sou mesmo antiga. 

O desafio que estou a enfrentar está a aproximar-me de pessoas que já foram próximas. Uma doença coloca-nos de frente com a nossa finitude. Sabemos que um dia vamos morrer, mas uma doença lembra-nos disso constantemente. E o mesmo acontece quando é alguém com quem já nos cruzámos em algum momento da nossa vida.

É muito bom que tenhamos bem presente a impermanência da vida e que tenhamos a coragem para fazer aquele telefonema, mandar aquela mensagem. Não adiar. 

Sou muito grata pela onda de amor que tenho recebido. E não é só pena, sinto que também é admiração e isso faz-me muito bem e dá-me muito ânimo para enfrentar os meus dias. 

28.2.25

Treinar durante a quimio

À sexta quimio veio o tal do cansaço que nos derruba. Nunca tinha sentido isto, embora já me sentisse cansada antes. Curiosamente, esta semana também treinei mais, por isso também tenho tido mais dores musculares do que o habitual.

Hoje de manhã, ajudei a preparar a minha mais que tudo para o desfile de Carnaval. Estava linda! 

Depois, fui até ao Hospital de Dia porque me tinham ligado para fazer as análises hoje, já que farei a quimio na segunda-feira. Estava já a entrar na sala das análises quando chega uma enfermeira a dizer-me que não poderia fazer as análises hoje. Era muito cedo, tendo em conta que fiz quimio apenas há 3 dias. Precisava de mais tempo para recuperar os valores. Por isso, vou ter que ir fazer as análises da segunda de manhã para saber se poderei fazer a quimio de tarde. Ou seja, quem me ligou não prestou atenção às datas dos meus tratamentos. 

Voltei para casa e não fui ver o desfile da minha querida filha. Estava super cansada e meti-me na cama. Ainda dormi mais um pouco e, por volta do meio dia, começo a receber mensagens do grupo de exercício físico do WhatsApp. Estava a aproximar-se a hora do treino. 

Enchi-me de coragem, levantei-me e equipei-me. Se estivesse a treinar fora de casa, certamente hoje não teria feito nada. Não tinha a energia para sair de casa, ir treinar e regressar. 

Treino com o Hugo Ribeiro, que é especialista em exercício oncológico. Entramos no zoom e, juntamente com um pequeno grupo de outras senhoras que tiveram ou têm cancro de mama, fazemos um treino orientado para as nossas necessidades. 

No momento atual, fazer estes treinos tem sido uma mais valia porque não preciso de sair de casa. Numa altura em que tenho a imunidade comprometida e muita falta de vontade de me mexer, ter este incentivo é excelente. O exercício físico é de capital importância durante os tratamentos e para evitar recidivas. 

Pronto, hoje foi o que fiz. Não consegui ir andar a pé, mas trabalhei as pernas, braços e o core. De tarde, apetecia-me ir para a cama, mas o sol estava tão bom que decidi fazer outra coisa. Muni-me de uma manta quente, boné e um livro e instalei-me numa espreguiçadeira ao lado da piscina. Ali fiquei, ao sol, mas protegida do mesmo e voltei a adormecer. Soube-me mesmo bem. 

Amanhã espero ter mais energia. 💪





27.2.25

Primeiro dia em baixo

Hoje foi o primeiro dia, desde que iniciei os tratamentos, em que me senti em baixo. Os dois dias anteriores de insónias também não devem ter ajudado muito.

Acordei para preparar a miúda para o colégio, mas não me consegui levantar da cama. Fui controlando tudo à distância, mas não a ajudei em nada.

Tentei manter-me acordada, ouvi o podcast da Joana Marques, mas rapidamente adormeci. Estive on & off até às 12, mas só saí da cama às 13. Vesti um hoodie por cima do pijama e fui almoçar. O barulho incomoda-me. Até o barulho dos talheres a encostar nos pratos. 

Passei a tarde no sofá, à lareira, e vi um filme na Prime - Anyone but you. Não consegui ter energia para ler. Preferi ver uma comédia e este filme foi bem interessante, até porque é inspirado na peça Much Ado About Nothing, de Shakespeare. Ligeiro como eu precisava.

Ao fim do dia, tive que ir buscar a MV ao colégio e ainda passei no Continente, mas fui contrariada. Apetecia-me cama. 

Ajudei-a a preparar a roupa para amanhã, já que vai haver desfile de Carnaval. A turma dela vai representar países e culturas, como já aconteceu no passado. Da outra vez, representou o Japão e amanhã representará a Índia. Tenho muita roupa e acessórios que a minha querida Krupa me ofereceu. Tivemos que fazer algumas adaptações porque amanhã vai estar mesmo muito frio. 



26.2.25

Quimio 6/12

Mais uma voltinha ao Hospital de Dia para a 6a sessão de quimioterapia branca.

Sinto-me super confortável em andar pelos hospitais de cabelo rapado. Na rua tenho mais receio dos olhares, mas esta semana até fui buscar a miúda ao colégio assim. Foi muito rápido e não deu para avaliar as reações.

Desta vez fui com um bocado de receio devido ao cateter e avisei a enfermeira. Também levei uma roupa mais aberta para não dificultar o trabalho. Não doeu e hoje também não dói. Mas a enfermeira confirmou que o cateter está mais profundo, sim.

Recebi a visita da Lena, que é médica no hospital. Soube-me tão bem ver por ali uma cara familiar. E ela é uma querida! Além de que tem as filhas mais fofinhas! Antes de ir embora ofereceu me um livro da Joana Marques. Sou super fã, não passo sem o podcast Extremamente Desagradável e é o tipo de leitura que me apetece fazer nesta fase. Veio mesmo a calhar. 

Por incrível que pareça, não tenho lido nada. Tinha começado a ler um livro que queria muito (faz parte de uma quadrilogia da Elena Ferrante) quando o Filipe teve o acidente em Agosto. Nunca mais lhe consegui pegar e continua na mesa de cabeceira. Entretanto, fiz uma tentativa com um livro mais “fácil” da saga da Criada e também o abandonei após as primeiras páginas. Acho que vai ser mesmo este da Joana Marques que vai quebrar o enguiço porque comecei a lê-lo no cadeirão da quimio. 

Para o meu almoço, voltei a levar 2 sandes, de ovo e de carne. E esqueci-me que tinha uma banana, ou também a teria comido. Desta vez, consegui dormir um pouco após me darem o anti-histamínico, mas aqueles cadeirões são muito desconfortáveis. 

Há duas salas para administração da quimio: a dos cadeirões e a das camas. Claramente, prefiro ir para as camas, são mais confortáveis e o descanso é outro. Só a luz na sala das camas me incomoda um pouco porque é quase totalmente artificial. A luz natural entra por umas janelas muito pequenas na parte superior da parede. Já a sala dos cadeirões tem muitas janelas e grandes para o exterior, vemos a rua e veem-nos a nós. Ontem estava um dia muito solarengo, eu estava de frente para essas janelas e o sol batia-me na cara.

Entretanto, acordada da minha breve soneca, uma senhora que tinha chegado perguntou-me se eu era a Mara. Esta senhora é minha vizinha e já tínhamos falado por mensagem, só que não nos conhecíamos pessoalmente. Estivemos a conversar com outra senhora pelo meio e foi muito bom. Já fez os tratamentos todos, a cirurgia e agora faz imunoterapia. Estava giríssima com o cabelo curto e super animada. Também não teve grandes efeitos secundários, o que me dá esperança para continuar animada. 

Em casa, não consegui dormir mais. Nem a botija de água quente que a D. São me deixou já na cama aberta puseram a dormir. E isso leva-me a um novo efeito secundário: a insónia.

Adormeci já bem depois das 2 da manhã e acordei às 6. Isto é completamente atípico em mim. Eu durmo, gosto de dormir e preciso de dormir umas boas 7 horas. Hoje, deixei-me ficar na cama para recuperar algum sono e não consegui dormir. Vou levantar-me e fazer uma caminhada. 

A outra coisa que me está a incomodar muito é o apetite exagerado. Tenho andado descontrolada e vou parar isto imediatamente. Não aceito engordar porque é algo que tenho algum poder de mudar. E este é um compromisso que faço comigo. 







19.2.25

Quimio 5/12

Ontem à noite decidi que hoje não ia usar nada a cobrir a cabeça. Usei uma camisola com capuz para que, caso tivesse frio, pudesse facilmente agasalhar-me um pouco. 

Saí do carro de cabeça descoberta e segui para o interior do hospital de dia. Notei alguns olhares, evitei essas pessoas. Andei a passar-me pelo rés-do-chão e 1.º andar, air pods nos ouvidos e segui a minha vida. 

Tive consulta de nutrição com o Dr. Edgar às 12:30. As análises estão ótimas, nomeadamente as plaquetas e a hemoglobina. Acho que são estes valores que costumam estar mais baixos e, no meu caso, está tudo ok. Vamos manter o que andamos a fazer. Os meus suplementos são Vitamina D e multivitamínico de manhã e Omega 3 ao jantar. Para além disso, faço colagénio ao deitar e alimento-me muito bem. Pode-se comprovar que estou bem roliça 🤭. 

Aguardei pela minha hora na quimio e admito que não gosto muito deste horário. Quimio às 13:30 e ainda estava em jejum. Eu pratico o jejum intermitente e, para já, estou a manter dentro do possível. Tenho muita fome e termino de comer já muito tarde, às vezes faço mesmo um lanche já depois do jantar. O que procuro fazer é mesmo saltar o pequeno-almoço. Mas tenho que tentar jantar mais cedo porque a questão do aumento de peso já me está a incomodar. Portanto, começar às 13:30 altera-me um pouco tranquilidade e levo petiscos comigo. 

Fui comendo o almoço que a minha mummy me preparou, enquanto aguardava que chamassem o meu nome. Comecei pela omelete simples num pão chapata e logo depois entrei.

Na chegada à sala dos cadeirões, os enfermeiros ficaram muito surpreendidos e entusiasmados por ter chegado com a cabeça nua. Eles já me conhecem das consultas e dos tratamentos e no último ainda tinha o meu cabelo. Disseram que ficava muito bem e deram-me os parabéns pela decisão e coragem. 

Dirijo-me ao meu cadeirão e hoje é-me atribuída outra enfermeira, que ainda não conhecia. Disse que o meu cateter era muito profundo e teria que usar uma agulha maior. Ninguém se tinha queixado disso antes. A colocação da agulha foi mais dolorosa que o normal, mas depois passou. 

Hoje, tinha ao meu lado uma senhora portuguesa, mas que nasceu no Brasil. O sotaque nunca o perdeu e foi a primeira vez que conversei com alguém ao meu lado. Habitualmente, dormem ou estão mais prostrados. Tem cancro nos ovários há mais de 10 anos, já removeu tudo, mas insiste em aparecer. É animada e otimista. Os pais são transmontanos, emigraram para o Rio, ela nasceu lá, mas entretanto resolveram voltar. Vem de Castro Daire. É longe. Ainda pensei que essa área pertencesse a Viseu, mas por algum motivo vem para Vila Real. Está a fazer a quimio vermelha e diz que se sente bem e que resulta muito bem para a situação dela. 

Desta vez fui 3 vezes à casa de banho. É incrível como os soros chegam rapidamente à bexiga. E lá vou eu até à casa de banho do corredor. Na sala das camas, onde fiz tratamento 2 vezes, há uma casa de banho interior e é mais cómodo. 

Comi a 2.ª sandes que tinha um bife maravilhoso e bebi um sumo de maçã. Entretanto, perguntaram se queríamos comer qualquer coisa e disponibilizaram sopa, sandes, bolachas, iogurte, chá… Eu já venho abastecida de casa, mas já aceitei noutras ocasiões. A minha cortisona não me deixa passar fome. 

Hoje acabei perto das 4. Nem percebo bem o motivo, até porque comecei mais cedo.

Cheguei a casa e fui direita à cama. A D. São já me tinha aberto a cama e deixou-me uma botijinha de água quente. A casa estava aquecida, mas os meus pés estavam frios. Que bem que me soube! Não dormi nem na quimio nem em casa. Já passa da meia noite e ainda estou acordada. Preciso de dormir mais cedo e estar ativa mais cedo. Vamos ver se amanhã é o dia.

Sinto-me muito grata por não ter dores nem nenhum mal estar de relevo. Hoje sinto-me como se estivesse embriagada e já sei que nos próximos dias me sentirei como se estivesse de ressaca. Faz todo o sentido e aceito as condições 😂.