28.2.25

Treinar durante a quimio

À sexta quimio veio o tal do cansaço que nos derruba. Nunca tinha sentido isto, embora já me sentisse cansada antes. Curiosamente, esta semana também treinei mais, por isso também tenho tido mais dores musculares do que o habitual.

Hoje de manhã, ajudei a preparar a minha mais que tudo para o desfile de Carnaval. Estava linda! 

Depois, fui até ao Hospital de Dia porque me tinham ligado para fazer as análises hoje, já que farei a quimio na segunda-feira. Estava já a entrar na sala das análises quando chega uma enfermeira a dizer-me que não poderia fazer as análises hoje. Era muito cedo, tendo em conta que fiz quimio apenas há 3 dias. Precisava de mais tempo para recuperar os valores. Por isso, vou ter que ir fazer as análises da segunda de manhã para saber se poderei fazer a quimio de tarde. Ou seja, quem me ligou não prestou atenção às datas dos meus tratamentos. 

Voltei para casa e não fui ver o desfile da minha querida filha. Estava super cansada e meti-me na cama. Ainda dormi mais um pouco e, por volta do meio dia, começo a receber mensagens do grupo de exercício físico do WhatsApp. Estava a aproximar-se a hora do treino. 

Enchi-me de coragem, levantei-me e equipei-me. Se estivesse a treinar fora de casa, certamente hoje não teria feito nada. Não tinha a energia para sair de casa, ir treinar e regressar. 

Treino com o Hugo Ribeiro, que é especialista em exercício oncológico. Entramos no zoom e, juntamente com um pequeno grupo de outras senhoras que tiveram ou têm cancro de mama, fazemos um treino orientado para as nossas necessidades. 

No momento atual, fazer estes treinos tem sido uma mais valia porque não preciso de sair de casa. Numa altura em que tenho a imunidade comprometida e muita falta de vontade de me mexer, ter este incentivo é excelente. O exercício físico é de capital importância durante os tratamentos e para evitar recidivas. 

Pronto, hoje foi o que fiz. Não consegui ir andar a pé, mas trabalhei as pernas, braços e o core. De tarde, apetecia-me ir para a cama, mas o sol estava tão bom que decidi fazer outra coisa. Muni-me de uma manta quente, boné e um livro e instalei-me numa espreguiçadeira ao lado da piscina. Ali fiquei, ao sol, mas protegida do mesmo e voltei a adormecer. Soube-me mesmo bem. 

Amanhã espero ter mais energia. 💪





27.2.25

Primeiro dia em baixo

Hoje foi o primeiro dia, desde que iniciei os tratamentos, em que me senti em baixo. Os dois dias anteriores de insónias também não devem ter ajudado muito.

Acordei para preparar a miúda para o colégio, mas não me consegui levantar da cama. Fui controlando tudo à distância, mas não a ajudei em nada.

Tentei manter-me acordada, ouvi o podcast da Joana Marques, mas rapidamente adormeci. Estive on & off até às 12, mas só saí da cama às 13. Vesti um hoodie por cima do pijama e fui almoçar. O barulho incomoda-me. Até o barulho dos talheres a encostar nos pratos. 

Passei a tarde no sofá, à lareira, e vi um filme na Prime - Anyone but you. Não consegui ter energia para ler. Preferi ver uma comédia e este filme foi bem interessante, até porque é inspirado na peça Much Ado About Nothing, de Shakespeare. Ligeiro como eu precisava.

Ao fim do dia, tive que ir buscar a MV ao colégio e ainda passei no Continente, mas fui contrariada. Apetecia-me cama. 

Ajudei-a a preparar a roupa para amanhã, já que vai haver desfile de Carnaval. A turma dela vai representar países e culturas, como já aconteceu no passado. Da outra vez, representou o Japão e amanhã representará a Índia. Tenho muita roupa e acessórios que a minha querida Krupa me ofereceu. Tivemos que fazer algumas adaptações porque amanhã vai estar mesmo muito frio. 



26.2.25

Quimio 6/12

Mais uma voltinha ao Hospital de Dia para a 6a sessão de quimioterapia branca.

Sinto-me super confortável em andar pelos hospitais de cabelo rapado. Na rua tenho mais receio dos olhares, mas esta semana até fui buscar a miúda ao colégio assim. Foi muito rápido e não deu para avaliar as reações.

Desta vez fui com um bocado de receio devido ao cateter e avisei a enfermeira. Também levei uma roupa mais aberta para não dificultar o trabalho. Não doeu e hoje também não dói. Mas a enfermeira confirmou que o cateter está mais profundo, sim.

Recebi a visita da Lena, que é médica no hospital. Soube-me tão bem ver por ali uma cara familiar. E ela é uma querida! Além de que tem as filhas mais fofinhas! Antes de ir embora ofereceu me um livro da Joana Marques. Sou super fã, não passo sem o podcast Extremamente Desagradável e é o tipo de leitura que me apetece fazer nesta fase. Veio mesmo a calhar. 

Por incrível que pareça, não tenho lido nada. Tinha começado a ler um livro que queria muito (faz parte de uma quadrilogia da Elena Ferrante) quando o Filipe teve o acidente em Agosto. Nunca mais lhe consegui pegar e continua na mesa de cabeceira. Entretanto, fiz uma tentativa com um livro mais “fácil” da saga da Criada e também o abandonei após as primeiras páginas. Acho que vai ser mesmo este da Joana Marques que vai quebrar o enguiço porque comecei a lê-lo no cadeirão da quimio. 

Para o meu almoço, voltei a levar 2 sandes, de ovo e de carne. E esqueci-me que tinha uma banana, ou também a teria comido. Desta vez, consegui dormir um pouco após me darem o anti-histamínico, mas aqueles cadeirões são muito desconfortáveis. 

Há duas salas para administração da quimio: a dos cadeirões e a das camas. Claramente, prefiro ir para as camas, são mais confortáveis e o descanso é outro. Só a luz na sala das camas me incomoda um pouco porque é quase totalmente artificial. A luz natural entra por umas janelas muito pequenas na parte superior da parede. Já a sala dos cadeirões tem muitas janelas e grandes para o exterior, vemos a rua e veem-nos a nós. Ontem estava um dia muito solarengo, eu estava de frente para essas janelas e o sol batia-me na cara.

Entretanto, acordada da minha breve soneca, uma senhora que tinha chegado perguntou-me se eu era a Mara. Esta senhora é minha vizinha e já tínhamos falado por mensagem, só que não nos conhecíamos pessoalmente. Estivemos a conversar com outra senhora pelo meio e foi muito bom. Já fez os tratamentos todos, a cirurgia e agora faz imunoterapia. Estava giríssima com o cabelo curto e super animada. Também não teve grandes efeitos secundários, o que me dá esperança para continuar animada. 

Em casa, não consegui dormir mais. Nem a botija de água quente que a D. São me deixou já na cama aberta puseram a dormir. E isso leva-me a um novo efeito secundário: a insónia.

Adormeci já bem depois das 2 da manhã e acordei às 6. Isto é completamente atípico em mim. Eu durmo, gosto de dormir e preciso de dormir umas boas 7 horas. Hoje, deixei-me ficar na cama para recuperar algum sono e não consegui dormir. Vou levantar-me e fazer uma caminhada. 

A outra coisa que me está a incomodar muito é o apetite exagerado. Tenho andado descontrolada e vou parar isto imediatamente. Não aceito engordar porque é algo que tenho algum poder de mudar. E este é um compromisso que faço comigo. 







19.2.25

Quimio 5/12

Ontem à noite decidi que hoje não ia usar nada a cobrir a cabeça. Usei uma camisola com capuz para que, caso tivesse frio, pudesse facilmente agasalhar-me um pouco. 

Saí do carro de cabeça descoberta e segui para o interior do hospital de dia. Notei alguns olhares, evitei essas pessoas. Andei a passar-me pelo rés-do-chão e 1.º andar, air pods nos ouvidos e segui a minha vida. 

Tive consulta de nutrição com o Dr. Edgar às 12:30. As análises estão ótimas, nomeadamente as plaquetas e a hemoglobina. Acho que são estes valores que costumam estar mais baixos e, no meu caso, está tudo ok. Vamos manter o que andamos a fazer. Os meus suplementos são Vitamina D e multivitamínico de manhã e Omega 3 ao jantar. Para além disso, faço colagénio ao deitar e alimento-me muito bem. Pode-se comprovar que estou bem roliça 🤭. 

Aguardei pela minha hora na quimio e admito que não gosto muito deste horário. Quimio às 13:30 e ainda estava em jejum. Eu pratico o jejum intermitente e, para já, estou a manter dentro do possível. Tenho muita fome e termino de comer já muito tarde, às vezes faço mesmo um lanche já depois do jantar. O que procuro fazer é mesmo saltar o pequeno-almoço. Mas tenho que tentar jantar mais cedo porque a questão do aumento de peso já me está a incomodar. Portanto, começar às 13:30 altera-me um pouco tranquilidade e levo petiscos comigo. 

Fui comendo o almoço que a minha mummy me preparou, enquanto aguardava que chamassem o meu nome. Comecei pela omelete simples num pão chapata e logo depois entrei.

Na chegada à sala dos cadeirões, os enfermeiros ficaram muito surpreendidos e entusiasmados por ter chegado com a cabeça nua. Eles já me conhecem das consultas e dos tratamentos e no último ainda tinha o meu cabelo. Disseram que ficava muito bem e deram-me os parabéns pela decisão e coragem. 

Dirijo-me ao meu cadeirão e hoje é-me atribuída outra enfermeira, que ainda não conhecia. Disse que o meu cateter era muito profundo e teria que usar uma agulha maior. Ninguém se tinha queixado disso antes. A colocação da agulha foi mais dolorosa que o normal, mas depois passou. 

Hoje, tinha ao meu lado uma senhora portuguesa, mas que nasceu no Brasil. O sotaque nunca o perdeu e foi a primeira vez que conversei com alguém ao meu lado. Habitualmente, dormem ou estão mais prostrados. Tem cancro nos ovários há mais de 10 anos, já removeu tudo, mas insiste em aparecer. É animada e otimista. Os pais são transmontanos, emigraram para o Rio, ela nasceu lá, mas entretanto resolveram voltar. Vem de Castro Daire. É longe. Ainda pensei que essa área pertencesse a Viseu, mas por algum motivo vem para Vila Real. Está a fazer a quimio vermelha e diz que se sente bem e que resulta muito bem para a situação dela. 

Desta vez fui 3 vezes à casa de banho. É incrível como os soros chegam rapidamente à bexiga. E lá vou eu até à casa de banho do corredor. Na sala das camas, onde fiz tratamento 2 vezes, há uma casa de banho interior e é mais cómodo. 

Comi a 2.ª sandes que tinha um bife maravilhoso e bebi um sumo de maçã. Entretanto, perguntaram se queríamos comer qualquer coisa e disponibilizaram sopa, sandes, bolachas, iogurte, chá… Eu já venho abastecida de casa, mas já aceitei noutras ocasiões. A minha cortisona não me deixa passar fome. 

Hoje acabei perto das 4. Nem percebo bem o motivo, até porque comecei mais cedo.

Cheguei a casa e fui direita à cama. A D. São já me tinha aberto a cama e deixou-me uma botijinha de água quente. A casa estava aquecida, mas os meus pés estavam frios. Que bem que me soube! Não dormi nem na quimio nem em casa. Já passa da meia noite e ainda estou acordada. Preciso de dormir mais cedo e estar ativa mais cedo. Vamos ver se amanhã é o dia.

Sinto-me muito grata por não ter dores nem nenhum mal estar de relevo. Hoje sinto-me como se estivesse embriagada e já sei que nos próximos dias me sentirei como se estivesse de ressaca. Faz todo o sentido e aceito as condições 😂. 

17.2.25

I feel good

Amanhã faço a 5a sessão de quimioterapia. Falando muito honestamente, não me sinto doente, não tenho sentido efeitos secundários de relevo e tenho conseguido fazer uma vida relativamente normal. 

A sensação que tenho é semelhante à que senti na gravidez. Tinha a informação de que estava grávida, mas não me senti grávida até às 18 semanas, quando senti a minha filhota a mexer na minha barriga. Até lá, confiava nas imagens das ecografias, já que não tive enjoos ou outras maleitas.

Agora é mais ou menos a mesma coisa. Nunca me senti doente, embora tenha sentido aquele nódulo. Informaram-me que tinha um tumor maligno. Os exames de diagnóstico que fiz causaram-me mais stress do que os procedimentos cirúrgicos. Nunca tive dor que não passasse com um paracetamol. 

Com a quimioterapia acontece o mesmo. Alertaram-me para os efeitos adversos, mas até agora só mesmo o cansaço e a queda de cabelo se manifestaram. 

Eu sei que ainda é cedo e que vai ser difícil, mas eu sinto-me mesmo bem. Não me sinto doente e não me comporto como doente. Não gosto de me vitimizar, mas permito-me parar quando estou cansada. Procuro manter-me activa e retomei o exercício na semana passada. Faço caminhadas sempre o que sol me convida e ontem até andei de bicicleta. Tendo em conta tudo isto, como posso reclamar? Sou muito sortuda, é o que sou.

A questão do cabelo começa a perturbar-me porque não sei como me apresentar em público com auto-confiança. Tenho saído com perucas, mas assim que chego a casa tiro-a. Não é confortável e sinto-me a usar um disfarce. Parece que está toda a gente a olhar para mim. Não gosto de usar gorros ou lenços sem cabelo porque associo sempre a cancro. Em casa, uso gorros porque é confortável, mas não gosto da imagem.

Amanhã, preparo-me para sair pela primeira vez sem nada na cabeça. Vou usar uma camisola com capuz, caso sinta frio ao sair do carro e assim protejo-me. Vai ser um teste a mim própria e nada melhor do que ir à quimioterapia assim. Lá não me devem achar uma alien. 





16.2.25

É só cabelo?

Não sabia qual seria o momento certo para cortar o cabelo, mas entretanto percebi. Ficou claro para mim quando estava a ser difícil controlar a queda de cabelo. Na terça-feira, dia 11, sem quaisquer receios, pedi ao Filipe que me rapasse o cabelo. A Maria Victória quis ver, a minha mãe não teve coragem.

Montei o tripé e pus o meu telemóvel a filmar. A miúda estava muito apreensiva e o Filipe perguntava se estava pronta. Estava, claro. Preparei-me para este momento há mais de 2 meses, quando suspeitei do pior. Prendi o cabelo em 2 partes e cortámos isso primeiro. E depois foi tudo de seguida. 

Sentir a superfície da minha cabeça sem cabelo foi uma sensação agradável. Mesmo. O pior foi mesmo quando senti a necessidade de ver o que estava a acontecer e pedi o telemóvel à MV. Fui surpreendida pela nova imagem e a emoção tomou conta de mim e permiti-me chorar. E vou permitir-me sempre que sentir essa necessidade. 

Preferia ter cabelo, mas não desgosto da minha imagem sem cabelo. Destaca muito os meus traços, as minhas imperfeições, o tempo que já passou por mim. O cabelo ajuda a distrair e a ornamentar. Dá uma moldura ao rosto e agora já não a tenho. 

Entretanto, ainda vou perder outras molduras: as sobrancelhas e as pestanas. E ainda assim continuarei a ser eu. Sou sempre eu.

Depois de cortar o cabelo, fui tomar banho. A sensação da água na cabeça é completamente diferente. É agradável, acreditem. O meu banho agora está reduzido a uns breves 5 minutos. Quem tem o cabelo tão comprido como eu tinha saberá que a rotina de um cabelo bonito demora o seu tempo. Acabou-se o champô, o amaciador, a máscara, o serum, o óleo, spray disto e daquilo. Tudo suspenso, para já, embora já me tenham dito que tenho que continuar a usar champô e amaciador. 

Arrependo-me de ter feito um corte de cabelo antes de ter começado a quimioterapia. Fiz uma franja para se aproximar mais das perucas que tinha pensado usar e cortei ao comprimento para me ir habituando. Não existe essa coisa do hábito. Não me habituei à franja e acho que essa falta de identificação até ajudou a que me quisesse livrar do cabelo definitivamente. 

No dia seguinte, tive que sair para fazer fisioterapia e ir buscar a MV ao colégio. Não me apetecia lidar com os olhares de pena ou de surpresa. Coloquei uma peruca. E no dia seguinte fiz o mesmo. 


Ao longo destas semanas, tratei de comprar várias perucas. Não são iguais ao meu cabelo. Acho que as perucas de cabelo natural são caríssimas. Consigo imaginar várias outras coisas que me trariam mais felicidade do gastar milhares de euros numa peruca que vou usar durante uns meses. Resolvi então comprar perucas sintéticas e brincar um pouco com a minha imagem. Se acho confortável? Não, não acho. Nota-se à distância que é cabelo falso e custa-me um bocado porque eu sou super a favor da naturalidade. Eu só pintava o cabelo, mas não gostava de usar pestanas falsas, nem mesmo muita maquilhagem ou filtros. Provavelmente, agora vou ter que me socorrer disso tudo. 

Em casa, procuro não usar nada. É como me sinto melhor, mas a simples movimentação de ar quando me desloco arrefece-me. Uso gorros, mas não gosto do que vejo. Continuo a preferir estar ao natural.


Fiz uma publicação com o vídeo acima nas redes sociais e foi este o texto que o acompanhou:

Não me considero uma guerreira, não me propus para uma guerra. Simplesmente, não tive escolha. Fui obrigada a enfrentar esta doença para salvar a minha vida e, nesse processo, aprendi que a validação da beleza não tem lugar quando a nossa existência está em risco. O cabelo ou a aparência nunca foram o que me define, e nunca me definirão. Não preciso dessa validação. A beleza e a juventude são efémeras e toda a gente sabe disso.

Mesmo quando confrontada com isto tudo, procuro cuidar de mim – tanto por dentro como por fora. Admito que me faz bem à alma olhar-me ao espelho e gostar do meu reflexo.

Os tratamentos que faço são extremamente agressivos, mas, felizmente, têm-se tornado cada vez menos prejudiciais para os doentes. A medicina avançou imenso no tratamento do cancro da mama e, quando detetado precocemente, há possibilidade de cura. Iniciei a quimioterapia branca, que tem sido bem tolerada, e, até agora, os efeitos colaterais têm sido relativamente leves – cansaço, aumento de apetite e, agora, a perda de cabelo.

A queda de cabelo não é um sinal de doença, mas sim de que o tratamento está a agir e de que me estou a curar. 

Faço questão partilhar a minha experiência porque eu procurei muita informação na primeira pessoa. Precisava de contactar com outras mulheres que tivessem passado pelo mesmo. Sei que, infelizmente, mais mulheres serão diagnosticadas com cancro de mama e que esse processo não precisa de ser aterrorizante e solitário. Para mim, apesar dos desafios, a experiência tem sido cheia de aprendizagens, mas tranquila, e serei sempre transparente, independentemente do que o futuro traga. Tenho a plena noção que com o acumular de tratamentos e com a próxima quimio vermelha os dias se tornarão mais difíceis. 

Para aquelas pessoas que quiserem saber mais detalhes sobre o meu caso e queiram encontrar informações que as possam ajudar, estou a documentar tudo no meu blogue desde o primeiro dia. O link encontra-se no meu perfil.

O objetivo foi mesmo poupar-me a comentários piedosos, mas eles apareceram na mesma. As pessoas continuam a pensar que eu estou preocupada com a minha imagem, e eu continuo a preocupar-me com a minha saúde. Aliás, quando comecei o tratamento, a pergunta que mais me faziam era “E o cabelo?”. Preferia que me tivessem perguntado como estava ou como me sentia. 

Honestamente, sinto que os comentários que me dirigem ou as perguntas que me fazem vêm do fundo dos seus próprios medos.  É o confronto com algo que lhes poderia acontecer e isso assusta. Não levo nada a mal. Mesmo. Mas magoa.

Há uns dias estive com uma pessoa que me cumprimentou, disparou um “Estás tão linda!” e virou costas. Claramente, não soube lidar comigo. E eu compreendo. 

Está tudo bem. Eu não sou só cabelo e posso continuar a explorar a minha feminilidade. Eu continuo a ser eu.