19.3.21

Insónias

Hoje de manhã nem queria acreditar que era o Dia Internacional do Sono. Não é que na noite passada acordei às 5 da manhã e só consegui voltar a adormecer já passava das 6? Acordei sem motivo aparente, tentei manter-me na cama e retomar o sono e o sonho que estava a ter, mas sem sucesso. Fui à casa de banho e o dia já estava a começar a nascer... 

Já houve alturas em que dormi pouco porque o sono tardava em chegar. Isto de dormirmos com o telemóvel ao lado só serve para atrasar o sono, mantêm-nos despertos mais tempo. Não foi o caso. Acordei a meio da noite, mas fiquei acordada a sério. Nos dias em que durmo 8 horas e sou acordada pelo despertador, fico sonolenta durante bem mais tempo. 

Entretanto, tive mesmo que ligar o telemóvel. Fui dar uma volta às redes sociais e voltei a adormecer. Claro que quando o despertador tocou eu sentia-me como se tivesse sido atropelada por um camião. E não podia alimentar a preguiça...

Eu gosto mesmo muito de dormir. Sempre dormi muito (sempre que podia). Custou-me mesmo muito não ter um sono tranquilo e constantemente interrompido até aos 3 anos da minha filha. Quando ela nasceu custou-me bem menos do que quando ela tinha 2 ou 3 anos. Deviam ser as hormonas que ajudavam na recuperação do sono. E acho que foi esse o motivo principal de não ter tido mais filhos. Valorizo tanto uma noite bem dormida que não me quero meter noutra. 



12.3.21

Acabou-se a escola em casa

Confesso que já estava nas últimas. Em boa hora chegou este desconfinamento. Foi um desafio e tanto conciliar 8 horas de trabalho diário, 1 hora para almoço com as aulas e trabalhos de casa, refeições, lanches, xixis, birras...

No meu trabalho contabilizam-se cliques, tempo de resposta, a qualidade de resposta, a produtividade e a satisfação do cliente. Tinha que interromper frequentemente o meu trabalho para acudir às mais variadas necessidades domésticas e escolares. Quando regressava ao meu posto, tinha que recomeçar tudo de novo. Fiz alguns erros, claro! No apoio ao cliente o bom uso da palavra é fundamental. Quando a cabeça não está devidamente concentrada no problema que estamos a tratar, é natural que erros aconteçam. 

Todo este exercício de ter que equilibrar diferentes universos causou-me stress e irritabilidade. Estava sempre a gritar, frustrada com tudo! Quando pensava nas famílias com mais filhos, ambos os pais a tentarem trabalhar em casa, casas mais pequenas... era aí que relativizava tudo e dava graças a Deus. Calma! Era preciso ter calma! Tínhamos saúde, tínhamos trabalho, tínhamos a nossa filha connosco, com vontade de aprender. 

O professor da minha filha fez um esforço acrescido de trabalhar mais 1 hora por dia porque resolveu separar os dois anos que leccionava em simultâneo. 1.º e 4.º anos juntos não deram lá muito bom resultado nas aulas à distância, por isso, para bem de todos, as aulas eram dadas separadamente. Coitado do professor! Aturar miúdos não é nada fácil. Simplesmente não se calam! E eram apenas 6. Nem quero imaginar em turmas normais...

Hoje, na última aula, o professor pediu para os meninos agradecerem aos pais pela ajuda que deram. Ajudámos muito, é verdade, mas os professores fizeram um esforço notável! Como forma de agradecimento, a minha filha deu-me duas moedas de 10 cêntimos. 

Fiquei imensamente feliz por poder retomar um pouco da normalidade da minha vida (e da dela, claro!) com a abertura da escola. No entanto, já estou a antecipar as saudades imensas quando a for lá deixar e já não penso noutra coisa. 

5.3.21

As nossas histórias

Durante esta semana, lemos o livro Dez Dedos Dez Segredos, de Maria Alberta Menéres. O professor enviou por e-mail e adoramos estas pequenas recomendações. 

Como o título sugere, são 10 pequenas histórias relativas aos dedos das mãos. Líamos 2 histórias por noite e a Maria Victória ia lendo comigo. Eu leio em voz alta, ela acompanha, depois vou parando para ela continuar. 

Ela lê muito bem e já lia mesmo na pré. Não me consigo esquecer do dia em que a fui buscar para almoçar e a educadora me chamou para me informar, muito admirada, que ela sabia ler. Eu já sabia, claro. Expliquei que ela começou naturalmente a juntar letras, que tínhamos dois conjuntos de abecedário em ímanes no frigorífico e ela entretinha-se a formar palavras. Vi no tom dela algo de negativo, como se fosse prejudicial, como se fosse forçado. Não foi, claro! Acredito também que o facto de ter duas avós professoras do 1.º ciclo também possa ter influenciado porque aproveitam qualquer oportunidade para ensinar qualquer coisa. Quem lhe ofereceu os ímanes foi também uma prima nossa que é professora reformada do 1.º ciclo. Há sempre influências, claro, mas se a criança não tiver curiosidade, não há milagres. 

A leitura sempre fez parte da minha vida. Não tive irmãos, então os livros sempre me fizeram imensa companhia. Tive o privilégio de ter uma biblioteca de luxo porque também a minha mãe lia muito. Entretanto, a tecnologia meteu-se ao barulho e os livros ficaram mais postos de parte. Com os miúdos é ainda pior. A concorrência que os telemóveis e tablets fazem é completamente desleal. 

Por isso, é que me esforço para ler uma história com ela todas as noites. Seja em livro físico, seja no tablet. Criar essa rotina faz verdadeiros milagres. E também me esforço para que ela em veja a ler. Não adianta querermos que os miúdos leiam se não veem livros em casa e ninguém os abre ou lê.

E tudo isto para dizer que tenho este livro em .pdf. Quem estiver interessado, pode pedir-me e eu envio para o e-mail. 



3.3.21

Um dia normal

08:00 - Acordo (ultimamente até mais cedo... deve ser da idade) e deixo-me ficar na cama a ver as notícias nos meus feeds. 

08:30 - Visto-me e calço-me - nada de andar de pijama e pantufas - e, se tiver tempo, ainda preparo um café. 

08:50 - Começo a preparar o meu escritório e o dela. Ligo tudo, abro as páginas todas que preciso para começar a trabalhar antes das 9. 

08:55 - Deixo a miúda acordada para ver a aula da RTP Memória. 

09:30 - Acabei de trabalhar durante 30 minutos sem ser interrompida. Certifico-me de que veste a roupa que tem já preparada da noite anterior e bebe o leite.

09:45 - Entramos na loucura do Teams. 6 miúdos de 6 anos a falarem todos ao mesmo tempo, 6 pais a bichanarem por trás e um professor a tentar, quase sempre com sucesso, mantê-los engajados nos assuntos. 

10:00 - Deixei-a sozinha na sua aula porque estavam a corrigir os TPCs e já não precisa de mim para tudo. Quando regresso para ver se precisava de ajuda, tinha apanhado um batom meu e tinha pintado a beiça durante a aula. Usou a câmara como espelho. Começo a gritar com ela, mas em modo mute, e ela fica com um olhar assustadíssimo. Distrai-se a olhar para os colegas, perde-se na matéria, rodopia na cadeira... tenho mesmo que estar ao lado dela e certificar-me de que ouve tudo o que o professor diz e faz tudo naquele momento. Se eu olho mais demoradamente para o meu computador, quando vou a ver já perdemos um exercício. 

10:30 - Acaba a aula do Teams. Altura de total descompressão. Finalmente, posso gritar com som. Temos uma carrada de TPCs para fazer. Pequena pausa para o pequeno-almoço e uns bonecos na TV.

11:00 - Retomamos o ensino. Temos que fazer logo os TPCs da manhã para não acumularem com os da tarde. 

11:30 - Ela fica livre para fazer o que quiser. Pode ver TV e brincar livremente. Hoje fez uns sacos para a reciclagem. Aprendeu a fazer na aula de Estudo do Meio do Estudo em Casa e quis replicar. Depois posso falar melhor sobre isso. 

(É um entra e sai no escritório. Ou tem fome, ou precisa que vá com ela à casa de banho, ou andou a mexer nas cores da TV e tenho que ir resolver...)

13:00 - Tenho 1 hora de pausa para o almoço. Tenho de ter alguma coisa preparada de véspera. Habitualmente, comemos sobras ou alguma coisa que eu possa preparar rapidamente. É um stress porque eu quero terminar o almoço depressa para poder ter algum tempo livre e ela, que andou a petiscar a manhã inteira, não tem fome. O meu precioso tempo da hora de almoço é passado à mesa a tentar e enviar-lhe alguma coisa pela goela abaixo. Na maior parte das vezes, levo o café comigo para o escritório porque não tive tempo de o tomar na HORA inteira de almoço. 

14:00 - Recomeço o meu trabalho. Beberico o café e tenho mais 45 minutos pela frente de trabalho sossegado e com atenção plena. 

14:45 - TEEEEAMS! Recomeça a loucura. É exatamente igual à manhã, mas pior. De manhã, alguns miúdos ainda têm sono. À tarde, estão super excitados, já têm saudades de falar com os colegas. É um ruído que eu dispensava. 

15:30 - TPCs. Preciso que ela despache isto depressa para que eu tenha alguma paz. Às vezes as tarefas são monótonas e repetitivas, típicas do 1.º ano, que precisa de muita prática. E estes pequeninos escrevem devagar... Ai, a minha ansiedade! 

16:15 - Regresso ao meu querido trabalho exclusivamente. Exclusivamente disse eu? Posso recortar a tua revista? Podes! Posso ir andar de bicicleta no jardim? Podes! Mamã, caí da bicicleta e raspei com a cara toda no chão! Pára tudo! Olho inchado, cara esfolada, amanhã vai estar tudo negro. Miminhos, colinho, Bepanthene creme, gelo. Não havia gelo porque alguém andou a brincar com o gelo e não fez mais. 

17:00 - Pergunto se quer comer batatas fritas para acalmar e eu poder trabalhar outra vez. Qual Bepanthene, qual quê? Não há melhor remédio para a alma do que batatas fritas. E lá consegui retomar o trabalho até às 6 sem interrupções.

18:10 - Computador encerrado e apresso-me a sair para uma caminhada com ela. Vamos até ao fundo da rua ver os cavalos e passo o resto do tempo às voltas no jardim, qual rato de laboratório. Preciso de manter alguma atividade física, antes que me torne num boneco Michelin. E ela, pobrezinha, anda ali, atrás de mim, ou à minha frente. Estamos juntas, vamos conversando até que o sol se põe completamente e sou forçada a ir para dentro.

19:00 - Preparar o jantar. Fico completamente desorientada se não antecipei o jantar. É a altura em que descarrego mais o stress do dia, quase sempre no marido. Não me custa cozinhar, custa-me pensar no que vou preparar dia após dia, tentando que sobre alguma coisa para o almoço do dia seguinte. 

20:00 - Jantar sem telemóveis. Nem sempre é um momento fácil. Às vezes há lágrimas porque quer ver qualquer coisa enquanto come. Já só me falta fazer o pino.

21:30 - Começamos a preparar-nos para ir para a cama. Queria tanto que ela adormecesse cedo para eu poder responder às mensagens da minha loja on-line, ou poder ver a minha série na Netflix, ler um livro. Não dorme! Adormece sempre já depois das 22h e depois de 2 histórias. E eu fico cheia de sono depois de ler as histórias.  

23:00 - É a partir daqui que eu tenho tempo para mim. Já não consigo fazer nada. Estou esgotada. Não consigo fazer mais nada. Nem é tanto o cansaço físico porque não cansei o corpo. Cansei a cabeça de tanto ter que gerir em simultâneo. Multitasking mas nem tanto! 

21.2.21

Feminino Singular - Sveva Casati Modignani


Este livro andava aqui por casa há uns anos. Tinha-o comprado a uma senhora que recolhia bens para depois os vender em benefício de uma associação de protecção de animais. O título não foi muito convidativo e, por isso, ficou ali esquecido.

(Em 2021, quis assumir o compromisso comigo mesma de ler mais. Provavelmente, nunca vou conseguir ler ao ritmo que lia quando era mais jovem - menos obrigações, menos solicitações, menos redes sociais. Pensei em ler 1 livro por mês para retomar a rotina. E já vai ser bastante mais do que li, em média, nos anos anteriores. 

Em Janeiro terminei de ler O livro do Lykke. Tenho o hábito de abandonar os livros sem os terminar. Distraio-me com alguma coisa, são arrumados não estante e não me lembro mais. Também esses vão contar para o desafio. Não quero por a fasquia demasiado alta.)

Lembrei-me de o ir buscar à estante. A autora é muito conhecida em Itália e partilha este pseudónimo, Sveva Casati Modignani, com o marido. Este livro tem uma linguagem bastante simples e uma história com um enredo que prende. Atravessa 4 gerações, mas centra-se na história de Martina. 400 páginas distribuídas por muitos capítulos curtos. Gosto que as histórias se segmentem por assuntos, como se fossem contos.

O livro foi uma agradável surpresa. Consegui lê-lo em 2 fins-de-semana, com muitos “Mamãaaaa!” pelo meio. Como a história é muito interessante, conseguimos recuperar facilmente. 

Recomendo!


18.2.21

A arte de cabular

Ou copianços, como se diz por estas bandas. 

Provavelmente, até nem devia dedicar um post a esta arte, mas no outro dia lembrei-me disto e aqui vai uma reflexão.

Nunca precisei muito de levar lembretes para os testes, mas claro que o fiz. Aquele desafio de tentar fazer algo e não ser apanhado dava uma adrenalina inexplicável. No liceu, havia umas carteiras em madeira maciça, escuras. Nas aulas anteriores ao teste, deixava lá inscrita uma data, uma definição, uma ajudinha. 

Na faculdade, no entanto, foi onde me tornei mestre do copianço. Como tínhamos folhas de rascunho para preparar as nossas respostas, coleccionávamos essas tais folhas de frequências anteriores e levávamo-las escondidas já preenchidas. Na hora H, era só tirar a folha debaixo da camisola e começar a transcrição. Não fiz isto muitas vezes, mas fiz algumas. E só conseguia fazê-lo desta forma. Ficava era aflita quando as folhas de rascunho do teste eram de cor diferente das que eu levava escondidas.

Nós, que somos contra a corrupção, o roubo, as burlas, praticamos, quase sem culpa, estes delitos que consideramos menores. Será que são menores? Será que, por serem mais comuns, são mais desculpáveis? 

Recordo também o que uma professora nos contou. Ela dava aulas a professores que já tinham mais de 20 anos de experiência e que estavam a atualizar a sua formação para ficarem com uma licenciatura. A minha professora tinha menos de 30 anos e eles à volta 50. Copiavam descaradamente e ela não tinha coragem de os repreender. Via mas sentia aquela vergonha alheia...

Faz lembrar aqueles senhores doutores que foram apanhados a copiar na prova de acesso à magistratura. Juizes de confiança, não? 

Também já fui cúmplice activa na arte de cabular. As minhas colegas que tinham a disciplina de Inglês em atraso (apesar de estarmos numa licenciatura de Inglês 🙄) pediram-me ajuda para fazer as produções de texto. Sempre gostei de escrever e tinha opinião sobre tudo. O combinado era eu ficar no bar à espera que me enviassem por mensagem o tema da composição e o número de palavras. Depois, tinha que produzir 3 ou 4 textos para cada um delas. Era profissional. Fazia textos diferentes, com opiniões diferentes e estilos diferentes. 

Fui sempre tão generosa com os colegas e no último exame do curso uma dessas amigas recusou-se a ajudar-me numa resposta. Tinha tido muitas frequências seguidas e não tinha tido muito tempo para estudar para aquela. Li tudo uma vez e preparei as cábulas que não consegui usar. Não sei se foi Karma, mas não só eu tive alta nota, como ela chumbou à cadeira e não conseguiu ir fazer o estágio nesse ano. 

Enquanto professora sempre disse aos meus alunos, adolescentes e com a mania que sabem tudo, que podiam copiar à vontade. Desde que eu não os apanhasse. Se queriam copiar, tinham que se esmerar na tarefa. 

Sempre achei que preparar cábulas aguça a nossa capacidade de síntese e ajuda ao estudo. Por esse motivo, consegui tirar boa nota naquele exame onde nem sequer tive oportunidade de copiar. Acho que as cábulas conseguem ser de certa forma um método de estudo alternativo.